18 de dezembro de 2012

A Máscara



Não procure em mim o que você não consegue encontrar nela. Não procure no meu olhar os olhos de um outro alguém, e não tente encontrar no meu discurso as palavras de outrem. Não é a mim que você quer, então, eu lhe peço, de coração, que não tente me usar para preencher um vazio que você não consegue preencher sozinho. Eu não sou a peça que falta neste quebra-cabeça, e eu não posso me transformar nela.
Não me obrigue a vestir esta márcara apenas para seu deleite. Não atribua a mim um reflexo que não é meu. Não veja em mim uma pessoa que já não existe. Me olhe nos olhos, e me veja. A mim, e a mais ninguém.

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Dedicado à L.
Porque alguem precisa dizer o que você nao pode dizer.

10 de dezembro de 2012

Let it go


Eu sinto muito. Eu não queria te dizer, mas já deu sua hora. Você precisa ir embora, mesmo que isso signifique me deixar para trás. Não há mais nada pra você aqui, você já cumpriu seu papel e agora não pode mais oferecer o que eu preciso. Conforto não vai suprir esse vazio, e disso nós dois sabemos muito bem. Por isso, peço que pare: a sua atenção é, agora, o meu maior problema.
Você precisa ir embora. É melhor que você vá; você precisa me deixar, ainda que me machuque. Não pelo meu bem, mas porque é o que deve ser feito. O que eu sinto por você é muito maior e mais intenso do que o que você sente por mim, e eu sei aonde isso vai nos levar. Eu estava muito bem antes de você chegar e virar tudo de pernas para o ar - não exatamente bem, mas definitivamente melhor do que estou agora.Se você não tinha a intenção de ficar, não deveria ter entrado na minha vida, pra começo de conversa. Foi muito cruel de sua parte fazer essa algazarra em mim e sair sem limpar a bagunça; eu não pedi pela sua ajuda, e você não deveria tê-la oferecido tão despreocupadamente. Agora, você quer ficar em cima do muro, e eu me recuso a deixar isso acontecer.
Não adianta, meu caro. Você não quer ficar, e eu não serei enganada pelas suas palavras doces. Sua gentileza não é necessária, tampouco sua compaixão - já lidei com muitos espinhos e já sei curar minhas feridas. Não ouse me estender a mão se não o fará porque verdadeiramente se importa, mas por achar que é o certo a se fazer; você já fez o que não devia, não tente evitar as lágrimas agora. É justamente a sua bondade que me fere, então não seja bondoso. Não sorria pra mim, não me abrace, não segure minhas mãos, não seja atencioso comigo. Vá, vá embora, de uma vez por todas! Se o seu carinho não é uma mentira, se você realmente se preocupa com esse pobre coração, vá embora e me deixe aqui, sem olhar pra trás.
Eu já não tenho mais forças para resistir à você, e meu coração já não pode suportar mais nenhuma perda. Por isso eu lhe peço, por favor, que você se vá. Se realmente te entristece me ver triste, assuma sua culpa e faça o que é necessário - deixe que eu lide com a minha dor sozinha. Entenda, meu caro, que um objeto de desejo que não pode ser alcançado não é capaz de curar uma dor de amor...

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No it's not meant to be like this.
Not what I planned at all.
I don't want to feel like this.
So that makes it all your fault.
The Walk, Imogen Heap

8 de dezembro de 2012

Condolências

A notícia veio assim, de repente. "Faleceu hoje, pela manhã. O enterro será as 14h."
Não me incomodou o fato de ter recebido a notícia por meio de um SMS. Não me incomodou o fato de descobrir por uma rede social que ele estava na UTI há dias. Não me importava o fato de que eu provavelmente fui a última a saber. Me incomodava o fato de não me sentir incomodada. Estava, por incrível que pareça, pensando comigo mesma que era um bom dia para um velório - o céu nublado, sem nuvens de chuva, sem o sol quente: um dia triste. Eu acabara de receber uma terrível notícia, e estava comentando comigo mesma sobre o clima.
Tomei um banho rápido, e procurei por roupas pretas - afinal, eu devia o mínimo de respeito pelo morto. Não me importei se estava arrumada, porque achei que a ocasião não pedia por isso. Não me sentia triste, também; me sentia indiferente, e me incomodava profundamente saber que um conhecido havia morrido pela manhã e eu não sentia nada a respeito. Uma vida, uma pessoa cheia de pensamentos e inclinações, que tinha um trabalho, amigos e uma história pra contar tinha morrido, e eu não conseguia me importar.
Que tipo de pessoa sem coração era eu, afinal?
No velório, me senti pior. As pessoas choravam compulsivamente - ver a dor estampada no olhar da mãe dele, sua voz embargada e as palavras desconexas, me magoava. Permaneci encostada em um canto qualquer, observando a movimentação, as pessoas que chegavam e se amontoavam sobre a pobre mulher, dizendo coisas como "Ele era um bom rapaz" e "Ele está num lugar melhor agora" - coisas que, para mim, não faziam o menor sentido. Ela conhecia o próprio filho e sabia se era ou não um bom rapaz e, onde quer que ele estivesse - se é que estava em algum lugar que não o caixão onde se encontrava seu corpo -, não era ao lado dela, e essa era a parte que importava. "Somos todos muito insensíveis no fim das contas", concluí. Todos perdem algo em algum momento, mas isso não quer dizer que possamos entender a perda uns dos outros. E, por isso, eu não disse nada.
Não que ninguém devesse tentar consolar os inconsoláveis, mas eu não conseguia deixar de pensar que muitos deles, assim como eu, talvez não sentissem nada e, ainda assim, se achavam no direito de dizer alguma coisa, o que me parecia muito injusto de alguma forma. Ainda assim, uma parte de mim sabia que, de uma forma ou de outra, eu só estava tentando justificar a minha própria indiferença, procurando nela um lado positivo - que eu sabia não existir.
Não demorou muito para que o cortejo se iniciasse. Seguimos em silêncio, embora pudéssemos ouvir alguns soluços e murmúrios. Assim que os primeiros montes de terra caíram sobre a madeira escura, a mãe precisou ser amparada - mais precisamente, impedida de pular junto ao caixão. A cena foi triste, e por um momento tive a certeza de que não a esqueceria. Me perguntei o que faria se fosse minha mãe. Ou meu pai. Ou alguém que eu verdadeiramente amasse, e não quisesse deixar ir embora. Me perguntei como aquela mulher seria capaz de viver sem seu amado filho, e se alguém, além de mim, havia pensado nisso. O que seria dela agora? Não era com o morto que deveríamos estar no preocupando, ele já estava morto de qualquer forma. Será que ir até o velório, enxugar as lágrimas silenciosamente e dizer "meus pêsames" era o suficiente? Eu achava que não.
A coisa toda terminou subitamente, assim como havia começado. Tão logo os coveiros terminaram seu trabalho, as pessoas se disperçaram, como se nada tivesse acontecido. Entraram em seus carros e seguiram para o conforto de suas casas - já não era necessária a presença de ninguém, pois o  motivo que ali os uniu já estava a sete palmos do chão. Não havia mais nada com o que se preocupar.
Com relação ao falecido, eu não senti nada além de indiferença. O conhecia, já conversara com ele, mas era isso, e apenas isso. Por fim, eu só consegui pensar em como somos todos egoístas - se não é uma pessoa por nós amada, nós sequer conseguimos nos incomodar com a morte dela, e isso era triste. Muito triste.

5 de dezembro de 2012

Nosso lugar especial


Naquele banco, em meio às árvores e todo aquele verde, nós nos sentávamos lado a lado, olhando a vida passar. Muita gente passava por nossos olhos, muitas brisas balançaram nossos cabelos e muito tempo passou sem ser percebido. Havia, ali, um mundo totalmente novo, paralelo ao mundo real que tanto buscamos compreender - um mundo nosso, meu e seu.
Naquele banco dividíamos muita coisa - embora eu sempre falasse mais do que você. Aquela conversa descontraída, que parecia não ter muita importância, me era - e ainda é - muito preciosa. Cada palavra que vinha de ti era mágica, e meu mundo girava em função daqueles poucos momentos nos quais você gastava alguns minutos do seu dia ao meu lado. Falávamos sobre tudo e falávamos sobre nada: o conteúdo, em si, não me importava. Talvez mesmo o falar não importasse realmente; era você, ali, sentado ao meu lado, que me era verdadeiramente importante.
Nunca me perguntei o que era. Seja o que tenha sido, o que eu senti por você me passou despercebido, pois a sua amada presença ofuscava qualquer outra coisa que pudesse passar pelos meus pensamentos. Na verdade, nenhuma explicação me parecia necessária, pois viver o momento tomava muito de minha atenção. Fossem discssões fundamentadas em algo de valor, fossem meras palavras jogadas fora, um riso aqui, outro ali... Fosse o que fosse, me fazia feliz.
No entanto, o tempo voa, e a vida vai passando sem a gente perceber.
Você já não senta mais ao meu lado - a tua vida tomou outros rumos agora. Há outra pessoa com quem sua voz dança ao vento, com quem você se senta e espera o tempo passar. O banco, agora, fica vazio - nem eu, nem você, ningém o ocupa. De repente, havia algo mais importante em seu mundo, e o tempo que podíamos juntos jogar fora já não podia ser disperdiçado com uma conversa descontraída, como costumávamos fazer. Seja lá o que eu representava pra você, já não sou mais, e me dói não saber se eu sequer representei alguma coisa. 
O seu sorriso, no entanto, ainda é gentil. Seu abraço ainda é apertado, seu riso ainda é sincero e sua presença ainda é amada, mas seus olhos já não me veem. Seus olhar vai além do que posso ver e, embora me recuse a admitir, a minha vida também está tomando os próprios rumos agora. É triste, mas nós não nos sentamos mais naquele banco, e o que nos era importante naquele momento talvez não mais o seja. Seja lá o que foi que compartilhamos, já não está ao nosso alcance. Agora, um outro par vai ocupar o nosso lugar - que foi tão nosso! -, e ali contruirá um novo mundo, em cima das nossas ruínas.
A vida passa e o tempo voa, e, por fim, nós voamos com ele.


1 de dezembro de 2012

Esse mal estar de quatro letras

Às vezes meu estômago resolve esquecer o real propósito de sua existência, e se põe a dançar em um ritmo muito incômodo. Me dá vontade de vomitar.
E, se possível, eu muito gostaria de, também, vomitar esses sentimentos todos que eu tenho por você. Não me fazem muito bem, se é que me entende.
Mas, fazer o quê? É mais ou menos assim que a coisa funciona: nem remédio me cura de ti. E agora fico aqui, sentada, esperando essa dor passar.
Essa dor, sabe, de amor.

10 de novembro de 2012

Aquela carta

Às vezes, sem nenhm motivo especial, eu me pego pensando nessas coisas que já aconteceram há muito tempo, e que foram esquecidas no passado. Hoje, me lembrei de uma carta, que cheguei a enviar, mas que nunca me foi respondida. Naquela carta, estavam escritos todos os meus sentimentos por você, sobre o que eu pensava deles e o que faria com eles depois de enviá-la. Haviam muitos pensamentos dispersos, argumentos falhos e algumas letras borradas - umas, pela pressa; outras, pelas lágrimas.
Considerei muitas coisas antes de escrevê-la. O que poderia acontecer depois de enviá-la, e o que poderia não acontecer mesmo depois de enviá-la; você seria um covarde, assim como eu, e me escreveria uma réplica? Ou, assim que lesse aquelas linhas mal escritas, viria até minha casa para, olhando nos meus olhos - com aquela sua determinação sem limites estampada neles -, me enfrentar? Apesar de ter pensado em tudo isso, no entanto, sequer me passou pela cabeça que sua opção poderia ser o silêncio - a simples ideia de que essas palavras seriam ignoradas nunca me pareceu uma opção, uma vez que, entre elas, havia muito mais do que apenas palavras.
Sim, havia muito mais entre nós do que palavras. Ainda assim, foi basicamente um conjunto de palavras mal ditas que nos fez desistir de tudo aquilo - do amor, das próprias palavras, até mesmo do "nós". No fim das contas, até mesmo elas foram deixadas de lado, junto com as explicações e justificativas sem sentido que tentávamos sempre elaborar. 
Aquela carta, da qual eu me lembrei hoje, era um misto de tudo isso. Do amor que eu ainda sentia, embora me negasse a aceitar; das coisas que eu ainda queria dizer, embora me recusasse a te ver; do quanto eu te queria comigo, embora sequer conseguisse te olhar nos olhos. Uma despedida e, ao mesmo tempo, uma última medida desesperada de lhe ter de volta. De lhe pedir perdão. Uma última esperança, que ainda existia em um canto muito escondido desse coração - na época, já calejado - de que você entenderia, entre aquelas linhas mal escritas e borradas, esse último desejo. E agora, enquanto te dedico esse tempo e essas linhas, me pergunto se o meu recado subentendido foi lido, e o seu silêncio foi sua resposta.
Hoje, te escrevo essa carta. Não sei mais se este ainda é seu endereço, mal conheço o seu "eu" atual, mas me lembro de você. Talvez esteja casado e com filhos, talvez ainda seja o mesmo galã incorrigível pelo qual me apaixonei, talvez tenha se mudado para a Europa e nunca leia essas linhas - que já não são mais mal escritas. Nestas linhas, não há mais desespero, esperança ou mensagens escondidas - lembranças, apenas. Lembranças daquela carta, que você nunca respondeu.
Não vou perguntar como está, o que tem feito e o que tem passado, pois já não me convém. Espero, no entanto, que ao receber - isto é, se receber - esta carta, leia-a com atenção, pois mesmo as lembranças aqui deixadas me são importantes. Mesmo esse pequeno elo que ainda existe entre nós - ainda que exista só para mim - me é importante. E, mais do que tudo isso, espero, de coração, que não tente entender nada além dessas palavras que lhe escrevo. Para nosso próprio bem, meu e seu.

6 de novembro de 2012

O que resta de mim

Eu não sei quem sou. E, por isso, eu vivo nessa constante busca de mim. Me procuro nos mais distintos lugares, nos mais diversos olhares, e não sei bem ao certo dizer por onde já o fiz. Já tentei me encontrar nos outros, nas coisas, até em mim mesma - mas não há pistas em mim, e nem nos demais.
Cada palavra que escrevo sou eu, e cada texto que redijo é um pedaço de mim. Que se vai, ou que vem? Em algum lugar, eu perdi a capacidade de dizer. Nesse peito, onde bate um coração, não existe emoção, e nessa mente, onde pulsam os neurônios, já não há reflexão. Eu existo, eu respiro e eu tenho noção de minha presença - até mesmo as pessoas sabem de mim. Eu, no entanto, sou vazio. Ocupo lugar sem ocupar, procuro por mim sem encontrar, sinto as lágrimas que não consigo chorar e continuo, com ou sem esperança, a procurar por algo que reste de mim.
O que resta de mim? E, mais que isso: o que me impede de saber? Por que não posso me responder? Onde é que perdi minha essência? Eu me pergunto, com bastante frequência, até. Eu tenho noção da minha situação, eu sei um pouco de mim. Mas não há explicação para esse vazio, esse eco que existe nesse corpo, nessa mente, nesse peito - onde eu sei que bate um coração!
Eu não sei se o que ainda sinto é verdadeiramente meu, tampouco se o que penso me pertence. Olho pra mim e não me vejo, grito por mim e não me ouço e, entre todas essas paredes, não sei dizer se não encontro a saída ou se não a quero procurar. Já não sei nada de mim.
Eu não sei quem sou, embora viva nessa constande busca de mim. Eu sinto o sangue pulsar nessas veias e o ar entrar nesse pulmões, mas, dentro dessa casca, não há essência. O que sei de mim - dessa minha condição de existir - é que sou humana. Mas aquela essência, o que havia de mais humano em mim, a alma que me pertencia, já não está mais. Eu me perdi, e não consigo me encontrar. E essas lágrimas que eu sinto, mas não choro, esse luto que eu conheço, mas não sinto, são coisas que estão além do que essas mãos podem alcançar - e que, de uma forma ou de outra, existem - eu já não sinto mais.
Eu perdi a capacidade de sentir - e, agora, não posso sentir a mim mesma.
Até onde esse corpo suporta essa condição de "existir"?

13 de outubro de 2012

Um texto qualquer

Eu não gosto quando te abraçam, ou quando seguram suas mãos. Não gosto quando alguém além de mim brinca com seu cabelo ou acaricia seu rosto, e odeio quando falam de você com um sorriso. Odeio ouvir seu nome em uma voz que não a minha ou a sua, e odeio quando falam de coisas que pensei que só eu sabia sobre você. Ainda assim, mais do que tudo isso, odeio a ideia de que existe alguém além de mim que te ama. Alguém que não te merece, assim como eu.
Não preciso esconder de mim mesma que te quero só pra mim. Que queria ser a pessoa que seus olhos porcuram em meio a multidão, e o número mais discado do seu celular. Queria ser a musa que te faz cantar, ou aquela a quem você procura quando precisa de carinho. Queria ser pra você muito mais do que sou agora, muito mais do que um dia vou ser.
Queria que essa sua gentileza e esse seu sorriso se voltassem só pra mim... Mas é pedir demais, não é? Eu nunca vou ser tudo isso pra você. Eu nunca vou ser nem metade disso pra você. Aliás, eu nunca vou ser alguém pra você - vou passar pela sua vida como mais uma pessoa qualquer, que te trouxe um sorriso e te deixou uma saudade passageira. E eu sei que não adianta amar alguém que nunca vai te amar de volta, mas não dá pra evitar: você já é mais do que deveria ser pra mim.
O que me resta é te abraçar de um jeito que não abraço mais ninguém, segurar suas mãos e brincar com seu cabelo de um jeito que só eu sei; falar de você com um sorriso que só eu posso dar e acariciar seu rosto de uma forma que só você mereça; procurar você na multidão e cantar pensando em ti, mesmo que com essa minha voz desafinada. Vou ser pra você o que você é pra mim, e esperar que um dia você me sorria de um jeito que só eu mereça ver. Talvez esse eu sem-graça te conquiste, e quem sabe um dia você goste de mim como eu gosto de você. Até lá... Bom, eu te escrevo algo mais. Mesmo que você não leia.

3 de outubro de 2012

Ficção: Interminável


Durante toda a tarde, eu tinha ensaiado aquele sorriso amarelo no espelho do banheiro. Eu podia dizer que era um esforço além do comum, mas já havia passado por aquela situação tantas e tantas vezes... Era compreensível, é claro, que eles se sentissem ultrajados com uma notícia tão súbita - afinal, não é sempre que nos contemplam com uma promoção em outro país. Eu não havia sido realmente promovida, na verdade, pois o chefe do departamento havia pedido por voluntários. E eu não havia descoberto tão recentemente, já faziam alguns meses. Uns bons meses.
Mas era um detalhe muito insignificante, nada que eles precisassem saber.
Ela desatou a chorar. Confessou-me que em breve se casariam, e queria que eu fosse sua madrinha - eu era uma amiga tão especial, alguém que ela amava tanto... como podia abandoná-la logo agora? Ele balançava a cabeça em sinal negativo, como se tentasse espantar um pensamento ruim. Os olhos, fixos em um ponto qualquer no chão, algo para o qual eu não daria atenção.
Levantei-me do sofá, e a abracei. Disse-lhe que estava feliz por ela e, enquanto começava a soluçar, reclamei sobre como seria difícil não tê-los por perto. Duas mentiras, num único instante.
Eu sabia que iriam se casar. Escolhi seu anel de noivado, em uma das mais caras lojas da cidade. Também sabia que já haviam escolhido o dia, sabia que a cerimônia realizar-se-ia na mesma igreja onde seus pais haviam se casado, e sabia também que o bolo seria enfeitado com cerejas, porque era a fruta favorita de ambos. Só não sabia como era o vestido, porque era tradição que o noivo só o visse no dia do enlace matrimonial.
Também não ia sentir saudades. Nem da suposta amizade que achavam que tínhamos, nem dos almoços alegres e fartos, nem das tardes jogando palavras ao vento na varanda. Também não sentiria falta dos filmes que vimos juntos, nem das fotos que eu nunca revelei embora jurasse que estavam coladas na porta do guarda-roupa. Não sentiria falta dessa amizade inventada, que eu criei e vivenciei com tanto amor e carinho. Não quando eu não havia vivenciado de verdade.
Disse-lhes que precisava ir para casa, pois a gata estava sem comida. Disse-lhes que ligaria, para que ele me levasse até o aeroporto, e para que pudéssemos nos despedir, e que lhes avisaria assim que descobrisse a data da viagem. Desejei-lhes amor, felicidade, todos os clichés que costumam desejar aos noivos, e nos dirigimos até a porta. Ele se ofereceu para me acompanhar e, com os olhos marejados, recusei o convite educadamente. Me despedi, e desci as pequenas escadas da varanda. Acenei antes de passar pelo pequeno portão de ferro e, enxugando as lágrimas - falsas, por sinal -, segui meu caminho.
Caminhei pelas ruas pouco iluminadas, e suspirei. Era tão fácil enganá-los, a todos eles, que sequer tinha graça. Sequer demandava algum esforço - e eu nem era atriz de verdade. Era tão fácil levar essa vida despreocupada, sem dores de cabeça... Me preocupava, às vezes, que a cada mudança eu chorasse com mais facilidade, mas era uma habilidade consideravelmente conveniente - o que fazia com que as preocupações sumissem rapidamente.
Já fazia muito tempo que eu me transferia quase que anualmente. Não existiam promoções, apenas algumas vagas que brotavam nos lugares mais longínquos - de forma muito conveniente. E eu não ia ligar quando descobrisse a data da viagem, uma vez que a passagem para o vôo de amanhã estava em cima da cabeceira. E eles sequer imaginavam que eu já havia vendido todos os móveis, nem que o táxi me buscaria às dez da manhã. Eles sequer imaginavam que eu chorava lágrimas falsas, que eu estava agradecendo aos mais diversos deuses por ir embora, que eles nunca mais iam me ver. Eles sequer imaginavam que viveram uma mentira por meses, e que eu estava cansada daquelas mentiras estúpidas.
Apressei o passo - a gata, de fato, precisava comer. Talvez não tanto, porque tinha lhe deixado comida na tigela, mas ela sempre pedia por mais. Também devia estar sentindo-se sozinha, já que eu havia dipensado a senhora que tomava conta dela, e ela odiava ficar sozinha. E eu já havia enfiado seus brinquedos na mala, seria quase impossível conter seu mau-humor caso estivesse com fome.
Eu sequer me questionava em como todas as minha relações haviam se resumido ao ronronar de uma gata. Reviver meus fantasmas ainda era difícil, embora já fizessem tantos anos, mas eu já havia aprendido o que precisava com eles. Eu não podia confiar nas pessoas, elas mentiam e, uma vez que você começa a perceber, não consegue mais ignorar. O fato de ela ainda não saber que eu e ele tínhamos um relacionamento até dois meses antes era prova o suficiente, não?
Conforme me aproxima do centro da cidade, podia ouvir mais vozes e risadas. O som dos pneus dos carros sobre a pista molhada me agradava - aliás, todos os sons me agradavam, com excessão de vozes. Eu já havia considerado se não tinha fobia social, mas minha última terapeuta havia garantido que não. Muito pelo contrário, eu era extremamente sociável, talvez até demais - meu grande erro, talvez, fosse esse. Confiar nas pessoas, gostar delas, contar meus segredos pra elas e me decepcionar com elas. É claro que eu não falava sobre meus relacionamentos superficiais, porque não me parecia interessante, mas também me era muito claro que ela sabia. Talvez não dos relacionamentos, mas da falta deles, provavelmente.
Embora eu soubesse desse problema, os relacionamentos eram inviáveis. As pessoas, inviáveis. A falsidade delas, inviável. Não era uma questão de adaptar-se: era uma escolha, e eu havia escolhido não sofrer. No fundo, por mais que eu tentasse me provar o contrário, eles todos se mostravam iguais no final. Sabiam o endereço do meu trabalho, mas nunca apareciam para perguntar de mim. Tinham o telefone do meu departamento, mas nunca ligavam para pedir notícias. Mandavam mensagens por e-mail e em redes sociais, mas desistiam em questão de poucas semanas se eu não os respondesse. Nenhum deles se dava ao trabalho de me procurar, e eu virava uma vaga lembrança, uma fotografia esquecida no fundo da gaveta.
E por isso, eu viajava. Me mudava. Conhecia o mundo, e sabia mais de dez idiomas diferentes - um hobbie, devo dizer. Eu fazia questão de sumir: assim que as relações mostravam-se complicadas, eu era misteriosamente promovida - quando dava por mim, meu supervisor estava na porta de casa com as passagens em mãos. Por mais que a saudade apertasse, eu nunca tinha tempo de escrever, e rarmente a internet ou o celular funcionavam aonde eu estava morando. O novo setor sofria de falta de funcionários, o que me impedia de fazer visitas durante as férias e feriados - quem dirá nos fins de semana! Ainda assim, eu adorava meu trabalho, e não o trocaria por nada - nem pelos supostos amigos, que eu supostamente amava tanto.
Quando abri a porta do apartamento, a gata miou alto. Veio até mim e enroscou-se em minhas pernas, enquanto eu girava a chave. Aquela companheira, praticamente muda, era extremamente confiável. Ainda que nossa relação se baseasse em carinhos, miados e comida. 
Assistimos a um filme antes de dormir, e ouvi aos recados deixados por minha mãe na secretária eletrônica. Em breve, estaria em casa, a veria e comeríamos biscoitos. Ela era, no fim das contas, a única pessoa que falava e andava em duas pernas com a qual eu ainda gostava de conversar e, vez ou outra, passava na cidade na qual ela morava - quando sabia onde era, já que ela se mudava tanto quanto eu. Mas nos últimos tempos ela falava muito da vida no interior, entre as vacas e cavalos, e pegar ovos no galinheiro parecia fazê-la extremamente feliz.
Chequei minhas malas. Fitei as paredes do apartamento, as luzes pela janela, os presentes que havia ganhado dela escostados no canto o quarto. No dia seguinte, pela manhã, tudo aquilo ficaria a milhas e milhas de distância, e aquela outra personalidade ficaria para trás. No dia seguinte, pela manhã, eu começaria uma nova vida - sem dores de cabeça, sem preocupações, sem mentiras. No dia seguinte, pela manhã, eu seria uma pessoa nova - em todos os sentidos da expressão.

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"So you're gone and I'm haunted
And I bet you're just fine
Did I make it that easy for you
To walk right in and out of my life?"

A fine fenzy - Almost Lover





30 de setembro de 2012

Desilusões infantis



Eu ainda sou muito menina para amar. Não existe em mim o que é necessário para saber entregar-se a um grande amor. Esse meu paladar de criança ainda não consegue suportar o sabor amargo de uma grande paixão, tampouco de uma grande decepção.
Eu não sei o que fazer quando me vem essa urgência em chorar, e menos ainda quando as lágrimas não vêm, embora eu precise delas. Eu não sei o que fazer quando meu coração aperta, porque me dou conta do quão distante você está de mim. Não sei como devo agir, o que fazer, e tudo isso me assusta. Mas eu sei, e muito bem, que isso é a prova do quão imatura eu sou para o amor - esse meu medo de cair antes mesmo de começar a caminhar, típico de uma criança.
Eu não tenho esse direito. Eu não tenho o direito de te amar, te tentar ser pra você o que você é pra mim , de caminhar ao seu lado como gostaria que você caminhasse do meu. Eu não tenho direito de sorrir com você, chorar com você, amar com você. Eu não tenho direito de ser alguém no seu mundo.
É por isso que eu não vou te contar. Você nunca, nunca vai saber o quanto eu te amo, porque eu sou muito insegura pra me entregar ao amor. Eu desisto de te amar, de te alcançar, de tentar ser pra você o que você é pra mim. Eu desisto de você, antes que você desista de mim.
Porque eu ainda sou muito menina pra amar, e você é muito homem pra me esperar.

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"My feelings were probably just some delusion to begin with, caused by the phenomenon of a usually cold person being just a little bit nice to you, and suddenly seeming like a wonderful person."

- Yoshioka Futaba

Do outro lado da rua.



Um dia, como outro qualquer, pode virar de cabeça pra baixo a qualquer momento.
Disso, eu sabia. Sempre soube, na verdade, e nunca sequer duvidei. Só não esperava que fosse te encontrar depois de tanto tempo, só isso. Pelo menos, não de uma forma tão inusitada, inesperada, sei lá. Dessa forma.
Te vi assim, por acaso, do outro lado da rua. Não era uma distância assim tão curta, e tinham muitos carros passando, mas eu te vi. Com seu olhar preso em alguma coisa que eu sequer me importei em saber o que era, a sua pose de entediado ainda era a mesma. E era óbvio que o seu mau-humor, visível em seu rosto, era devido ao fato de ter esquecido o guarda-chuva, e as gotinhas da garoa caindo em seu cabelo lhe incomodavam. E eu ainda podia apostar que sua camisa estava mal-passada - ou mesmo amarrotada -, e você estava usando uma meia de cada cor.
Não pude deixar de me recordar dessas pequenas coisas. Era quase inacreditável topar com você assim, no centro da cidade, depois de tantos anos sem te ver. Sem falar contigo, ou sequer pensar em ti. Até mesmo os amigos que tínhamos em comum pareciam ter o cuidado de não mencionar-lhe durante nossas conversas casuais, embora eu nunca tenha reclamado. E sequer me proibi de pensar se alguém nesse mundo consegia fazer um café que lhe agradasse ao paladar, além de mim. Se alguém, finalmente, havia aprendido a passar suas camisas, e dobrá-las da forma que você gostava. Se existia alguém, além de mim, que sabia de que lado você gostava de pendurar os cabides no guarda-roupa.
Se havia alguém que me substituia no seu mundo.
Naqueles poucos minutos, do outro lado da rua, esperando o semáforo de pedestres abrir, eu pensei em você. Única e exclusivamente em você. No seu jeito peculiar de falar e gesticular, na sua personalidade amável e nas suas expressões infantis. No quando eu te amei e, provavelmente, ainda amava, em algum lugar do meu coração. E não pude suprimir um sorriso, ao me dar conta de que ainda lembrava de todas as suas manias, tão características, depois de tanto tempo.
Quando a luz mudou de cor, respirei fundo. Passei por você sem me fazer perceber - talvez sequer fosse necessário o esforço, uma vez que seu olhar estava perdido entre as faixas da rua. Quando já estava quase do outro lado, entre o barulho da cidade e os passos dos pedestres, ouvi meu nome. Daquela maneira que só você sabia chamar. E, no entando, não virei. Não procurei seu olhar, seus braços, seu calor. Já havia passado tempo demais para isso.
Ao pisar na calçada, senti essa vontade de te ver, de gastar mais alguns minutos com você. Por muito pouco não te procurei do outro lado, não arrisquei minha vida entre os carros pra te abraçar. Por muito, muito pouco não me deixei levar pelo passado e pelas lembranças. Ali, no centro da cidade, em meio a tanta gente e tanto caos, nossas vidas seguiram seus rumos separadamente, buscando horizontes opostos. O meu dia, no entanto, já não era mais um dia qualquer.

23 de setembro de 2012

Indecifrável

Há muito em mim que não pode ser descrito em palavras. Que não pode ser dito, interpretado ou cantado, mas que diz muito sobre mim.
São coisas passíveis de compreensão, mas não da arte do interpretar, nem do se fazer entender. São coisas que precisam de um pouco mais do que curiosidade do interlocutor, que precisam de um pouco mais do que um bom entendedor. São coisas que precisam de muito mais do que palavras para se fazer entender. Ou talvez sequer precisam delas.
Há muito em mim que é preciso apenas e tão somente entender. E isso é tudo o que se pode dizer a respeito de mim.

29 de agosto de 2012

Boa Noite

Nos últimos tempos, nossa relação parece ter-se deteriorado. Ela sequer me dá boa noite - se me vê chegar do trabalho, é porque perdi minhas chaves, e alguém precisa abrir a porta para mim. Nossa relação começou de uma forma estranha, admito, já que ela era a amiga de uma amiga, e estava me fazendo apenas um favor. Se dá pra chamar o que tivemos de "caso", foi tão rápido que não poderia ter nenhuma outra conotação além de "casual". Começou e terminou com tamanha velocidade que sequer me dei conta do que aconteceu.
Não sei dizer quando as coisas ficaram assim. Não sou um homem de poucas palavras, muito pelo contrário, sou tão comunicativo que chego a falar em excesso. Mas não sinto que exista uma abertura entre nós para falar sobre essas coisas, para de fato estabelecer um diálogo, ou mesmo perguntar: que diabos está acontecendo? Quer dizer, quem sou eu para perguntar alguma coisa a esta altura do campeonato...?
Durante a maior parte do tempo, ela me ignora. Assiste à sua novela das oito, cozinha somente o necessário para si mesma, lava somente as próprias roupas e, quando chego, não há nada além de uma taça cheirando a vinho em cima da mesa. Já não tenho mais vontade de sentar-me com ela ao sofá, e discutir algum assunto banal - ou ainda, puxar um assunto banal -, pois o desconforto é tamanho que me sinto invadindo seu espaço ao fazê-lo. Já deve ser muito ter de incomodá-la com minha falta de habilidade com as panelas e o cheiro de queimado daquilo que eu cozinho - sequer sei se posso chamar aquilo de comida, para ser bem sincero.
Eu me pergunto, seriamente, se minha presença aqui ainda é desejada. Se é indesejada. Se ela sequer dá conta da minha existência, ou se  faz de conta que não dá. Não sei se é apropriado ir embora, já que não me convidaram a sair, ou se devo continuar dividindo com ela o mesmo teto, já que não dividimos a mesma cama. Parecemos até um casal de divorciados, ainda que nunca tenhamos sido casados. Aliás, nunca houve nada entre nós, além de uma certa "troca de favores". Mas não consigo sair, simplesmente. Me sinto perfeitamente incomodado e habituado com a situação na qual nos envolvemos.
Não queria uma revolução, nem nada. Mas, quando ela vai dormir, muito apreciaria que, ao menos, me dissesse "Boa noite".

19 de agosto de 2012

Não será a última vez.

Cansei de te esperar. Cansei de dedicar minhas palavras a alguém como você. Cansei de me iludir repetidamente, construindo de novo e de novo a esperança de te ter comigo mais uma vez. Já pensei, senti e escrevi tanta coisa sobre você e sobre nós, que me surpreende o fato de ainda ter palavras o suficiente para isso.
Mas, mais do que isso: me surpreende estar fazendo tudo de novo.
Você sequer existe mais. Você desapareceu na neblina dos meus delírios mais enevoados - mesmo a sua voz, que um dia fora algo pelo quando ansiei tanto ouvir, já me é uma memória muito distante, a qual sequer tenho acesso. Na verdade, a sua simples existência me parece uma ilusão, e me pego constantemente perguntando a mim mesma o que fazer sobre isso: você mal existe e, ainda assim, você também não vai embora.
Me odeie. Me machuque, me faça desejar o pior do pior a você, mas não me deixe aqui, sozinha, com todas as minha dúvidas e incertezas. Não seja assim tão cruel.
A cada dia tenho mais certeza de que não vou conseguir te esquecer nunca, no fim das contas. Você sequer merece meia dúzia de palavras minhas, e eu poderia escrever uma obra completa em 12 volumes sobre você. Sobre o quanto eu te amo e o quanto eu te odeio. Ou, ao menos, o quanto eu deveria - ou ainda, gostaria - de te odiar. Sobre o quanto dói meu coração e como meu sorriso desaparece toda vez que algo ou alguém me faz lembrar de você, e de como você continua vivendo sua vida como se nada tivesse acontecido.
É tão injusto me fazer dizer essas coisas sobre você... Tão injusto que eu seja a única a sentir essa tempestade de sentimentos, e experimentar do mais profundo vazio. É indescritível essa sensação de te querer tão perto, enquanto ainda sinto o gosto amargo da traição em minha boca. Se eu pudesse ao menos ser honesta comigo mesma... Se eu pudesse ao menos te dizer todas essas coisas que eu nunca disse nem nunca vou dizer...
Eu queria poder dizer que essa é a última vez que gasto minhas palavras com você, que, no fundo, não as merece, mas seria uma mentira. O mundo nunca mais vai ser o mesmo depois de você, nem eu nunca mais vou ser a mesma depois de você, e isso me mata aos poucos a cada dia que passa. Ainda mais quando percebo que, a cada dia, eu pareço sentir mais e mais a sua falta.
Você não merece nada disso. E eu mereço muito mais do que você sempre me oferece. Ainda assim, estou completamente viciada nessa relação tão desigual, disposta a destruir meu coração por você. Disposta a praticamente qualquer coisa. Disposta a me entregar a esse delírio doentio, a esse amor sem limites nem escrúpulos. O que me dói é que eu seria qualquer coisa por você, menos eu mesma. E entre você e a minha essência, nós sabemos a qual devo escolher.
Talvez um dia você volte, e me diga que tudo não passou de um mal entendido, mas eu sei que você não vai voltar. Eu sei que eu não só estou cansada, mas que vou deixar de esperar. Você não vem. Ainda assim...
Eu nunca mais serei a mesma.

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So run, run, run...
And hate me if it feels good
I can't hear your screams anymore
You lied to me
But I'm older now
[...]
And you'll never hurt me again.
The Last Song I'm wasting on you.
Evanescence

8 de agosto de 2012

Conflito.

Existe uma insatisfação, uma raiva generalizada, cujo alvo parece indefinido. Uma palavra, uma atitude, um alguém diferente. Já não sei mais se as pessoas as quais essa raiva se dirige de fato a merecem, ou se são um “Bode expiatório” de minha inconstância. Não se pode definir. Não se pode compreender. Esta raiva existe, e isso é tudo o que há para se dizer.

11 de julho de 2012

Sabe...


Saber que você já foi tudo pra mim um dia só não é pior do que ter ciência de que devo à você a pessoa que sou hoje. Se hoje eu sei que não devo me entregar a alguém muito cedo, é porque me arrependi de tê-lo feito com você. Se hoje eu sei que devo amar a mim mesma antes de amar aos outros, é porque te amei mais do que devia, e negligenciei ao meu próprio coração em prol da sua pessoa.
Pensando bem, eu diria que tirei muitas lições pra vida toda destes poucos anos que passamos juntos, sabe? De uma forma ou de outra, você tirou o melhor e o pior de mim, e eu provavelmente nunca vou descobrir se foi por sua habilidade ou se porque confiei demais em você. Também não sei dizer se a nossa história foi mesmo assim tão catastrófica, ou se fui eu quem me doei demais.
De quem será que foi a culpa, no fim das contas?
Eu sei que eu aprendi tanto sobre mim mesma, que não consigo deixar de me perguntar se a sua influência na minha vida não é maior agora, que você se foi, do que antes. Pois a cada erro que eu evito, é porque penso em algum que cometi com você. Porque confiei demais. Porque eu amei demais, menti demais, senti demais, me doei demais, foi tudo em excesso! Você foi um excesso. Nós fomos um excesso, e parece que todo mundo sabia, menos eu!
E, se eu não sabia, é porque de fato não queria saber. Quantas ombros amigos não me avisaram que essa nossa aventura não ia dar em lugar algum? Quantas mãos amigas não tentaram me puxar pra fora desse furacão que foi você em minha vida? Quantas, meu caro, quantas?
Se eu ao menos tivesse escutado... E, ainda assim, foi graças a toda essa bagunça que eu aprendi quando, como e quem eu devia escutar. Principalmente, a escutar a mim mesma. Ao que eu tinha a dizer.
Se foi errado ou não, eu não sei. Se a culpada fui eu, ou se foi você, se fomos nós ou os outros, eu nunca vou saber. E você também não vai. Não é mais uma questão a ser discutida, entende? Mas é tão, tão difícil ter que olhar no espelho e dizer a mim mesma que eu aprendi tanto com tudo isso, que você me ensinou tanto com tudo isso... Você! Você, que virou a minha vida de cabeça pra baixo e saiu dela com um sorriso na cara! Você, que bagunçou meu corpo e minha alma, e saiu ileso dessa história!
Apesar de tudo, eu admito. De coração. Eu admito que, se eu não pisar em falso outra vez, é porque me deixei levar pelo seu amor fajuto e sincero. Porque, no fim das contas, eu fui a única quem mentiu nessa história toda.
Ou não?

11 de junho de 2012

Sorriso falso

Assim que me viu, ela sorriu. Correu em minha direção e me abraçou forte, seus olhos sorriam. Perguntou-me como eu estava e passou a falar sobre as coisas banais de seu dia-a-dia, gesticulando alegremente. Nosso encontro parecia ser-lhe importante, e então forjei meu melhor sorriso - ou o que deveria ser um.
Vez ou outra, fazia questão de dizer como eu lhe era importante, e como nossa amizade era-lhe especial. Falava sobre nada em particular, sem menção de parar para pensar realmente em quais palavras escolher - coisa que já havia tempo eu não fazia. As conversas calculadas, os risos forçados, a amizade falsa e sem valor algum. Perdi algum tempo observando-a enquanto comprava sua bebida em um quiosque qualquer, e murmurava algo sobre uma loja que precisava checar. Os cabelos bagunçados, as cores contrastantes de roupa, a irregularidade por todo o figurino.
Uma pessoa irregular.
Não pude deixar de me perguntar se ela realmente não havia notado a que ponto estávamos chegando, ou se fazia um esforço além do comum para ignorar o fato. A amizade bonita que ela reforçava a todo instante me parecia uma memória tão utópica, tão distante, tão falsa... E ainda assim, parecia-lhe uma verdade tão absoluta, irredutível. Talvez o problema fosse eu e o gosto amargo dos meus copos de café pela manhã. Talvez o problema fossem as jujubas que ela ainda comia o tempo inteiro. Eu quase podia nos ver, caminhando juntas num passado não tão distante. Não seguimos rumos diferentes. Não realmente. Será que eu deveria ter lhe puxado pela mão, quando você decidiu parar no meio da estrada?
Pude ver nosso reflexo na vitrine de uma loja qualquer. Eu e minha feição serena, minhas roupas sérias e meu ar amargo de adulta, e você com suas roupas coloridas e irradiante infantilidade. Você, a criança que nunca viu o mundo de frente, que nunca se sustentou sobre os próprios pés.
Suspirei.
Encarei meu reflexo e o repreendi mentalmente. O sorriso dele era falso demais.


3 de junho de 2012

Basta!





Não. Eu digo não a essa sua mão estendida, a esse seu sorriso meigo e a essas suas palavras pensadas que não passam de meias-verdades - se não forem mentiras completas. Eu não aceito essa sua proposta meia-boca e essa sua conversa agradável, e eu não vou engolir essa sua cara de inocente, porque ambos sabemos que você não é.
Não! Eu digo não a essa sua amizade fajuta e a esses seus abraços sem amor, e eu me recuso a olhar nos olhos de alguém que não têm nada além de uma casca bonita! Eu não aceito esses seus convites mentirosos e esse seu sotaque elegante não vai me conquistar!
Não me venha com esse sorriso maroto... Não me venha com essas promessas quebradiças... Não me venha com esse coração partido esperando que eu o conserte. O que você espera de mim já não existe, e a pessoa que te diz isso você já não conhece. A nossa história não passa de história, e você bem sabe o porquê. Não tente ser meu amigo de novo, você não merece mais esse posto. Você não merece mais nada de mim.

13 de maio de 2012

Despedida.

Nossos olhares se encontraram. Por um segundo, senti arder em meu peito a mesma paixão de antes, o mesmo carinho, o mesmo amor, tudo com a mesma intensidade. Sustentei seu olhar, talvez pela surpresa, ou talvez estivesse procurando em você o velho amigo que deixei pra trás. E, no entanto, seus olhos já não eram os mesmos.
O brilho sonhador que antes havia neles desapareceu. O sorriso tão descontraído e sem motivo que eu tanto adorei foi substituído por uma falsidade fria, sem precedentes. O rapaz que eu tanto amei, de tantas formas, era agora nada além de um homem cinza, com seu terno sóbrio e sua seriedade amarga. O tua feição, antes tão tenra e afetuosa, era agora uma coisa embaçada, sem emoção.
Não pude segurar uma lágrima, sozinha e silenciosa, a escorrer por minha face. Que mal este mundo te fez pra que mudasse assim? Quem foi que tirou de você o teu coração doce, os teus abraços quentes, o teu sorriso sincero pelo qual me apaixonei? Quem foi o monstro que tomou de mim o amigo que me foi tão especial?
Assim como surgiu, teu sorriso de súbito se desfez, como tinta entre as águas. Trocamos um aceno discreto, e pude ver os ombros largos sumindo entre a multidão. Você se foi com o vento, e deixou pra trás todas as memórias, todo o amor, todo o seu eu. Tudo aquilo que, um dia, já foi tudo pra mim. Tudo aquilo que eu guardei no peito, com tanto carinho, já não era mais nada.
O horizonte esperava.
Deixei ao vento as minhas memórias. O meu amor. Talvez até aquela parte do meu eu que pertencia a você. Deixei pra trás os sorrisos, os abraços, o coração doce que você me deu. Deixei tudo, na esperança de esquecer as coisas que me fizeram mais feliz. Na esperança de esquecer essa saudade, daquela felicidade que só você podia me dar, e que agora não passa de uma lembrança tão distante. Uma lembrança triste de ti.
Dei-lhe as costas, e segui para o horizonte. Com um coração partido e um sorriso nos lábios. A vida não espera... E eu ainda tenho muito pra viver.

11 de maio de 2012

Sabe...

Se não posso dizer que te amo, prefiro não dizer nada.

3 de maio de 2012

Eu tranco a porta.

A vida nos prega peças. Eu diria que a nossa vida foi uma peça, em todos os sentidos, do começo ao fim. Já não lembro a estação na qual nos conhecemos - era tão natural ter você ao meu lado, será que não foi sempre assim? Nosso amor foi tão lindo, nossa história foi tão linda, nossa vida a dois... Em que esquina dessa vida a gente se perdeu? Onde, nessa viagem, eu soltei a tua mão tão amada? Ou foi você que soltou a minha?
Já não sei dizer quando foi nosso primeiro beijo, pois todos eram únicos. Não sei dizer qual foi o melhor presente, não sei dizer se houveram melhores momentos, se houveram melhores lembranças. Estar com você era o melhor de tudo, sempre. Mesmo agora... 
Cada lembrança tua é a mais linda. Cada sorriso teu é o mais bonito, cada abraço é o mais quente, cada beijo é o mais apaixonado. Nosso tempo valeria a pena voltar, nossos dias valeriam a pena reviver, nossa vida valeria a pena ver outra vez. Tudo valeu a pena, do começo ao fim. O nosso filme foi o mais belo dos romances que vivi, e seria covardia deixar isso se perder no meio dessas brigas tão banais. Nosso amor foi lindo demais pra morrer assim.
Espero, um dia, te encontrar de novo. Viver mais uma vez esse amor, beber da tua fonte, respirar do teu ar. Talvez em outras circunstâncias a gente possa viver a nossa história mais uma vez, da forma que ela deve ser vivida: intensamente. Que, novamente, possamos viver um amor onde palavras e gestos não são necessários, onde amar seja o mais importante. Que possamos viver de novo o nosso mundo, onde não há mais ninguém além de nós.
Por hora, esse é o nosso ponto final.
Não vou mais tomar seu tempo. Não vou mais te ligar, não te mandarei bilhetes nem enviarei e-mails, não mandarei mais mensagens, não vou mais te esperar no ponto de ônibus. Não vou mais enviar cartões no natal, nem no dia dos namorados. Não vou mandar lembranças no seu aniversário. Prometo sair da sua vida do jeito que entrei, sem alarde. Não vou mais tomar seu tempo. Não se incomode - eu tranco a porta ao sair.



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29 de abril de 2012

Tudo passa.


     Às vezes, sem motivo nenhum, eu sinto saudades de casa. De saber o que acontece. De saber o que teve no almoço de domingo. De ficar sentada na mesa, dentro do meu mundo particular, mas com a certeza de que meus pais estavam no sofá e meu irmão ali na rua.
     Às vezes eu me dou conta de que estou a 7h de casa. De que existem 450km entre minha família e eu. De que eu não posso vê-los quando tiver vontade, e de que ainda tenho cinco anos pela frente nessa outra cidade, que não é onde eu nasci e não é onde quero estar.
     Às vezes a gente acaba deixando muita coisa pra trás, quando toma uma decisão. Realizar um sonho, que a esta altura não é mais só meu, tem lá as suas consequências, o seu preço. E estar disposto a pagar o preço não necessariamente quer dizer que farei isso de bom grado. Eu lutei muito pra estar aqui, e eu sei – e todos sabem, na verdade – que essa é a coisa certa a se fazer. O que me entristece é que a escolha certa é sempre a mais dolorosa, e não dá pra fugir disso.
     Às vezes me bate essa saudade. Logo, logo, passa. Tudo passa: a vida passa, os anos passam, a tristeza passa. É só essa sensação de que tudo está passando muito rápido que me incomoda.
     Mas deixa. Outros dias virão.

27 de abril de 2012

Escrever.


Eu não escrevo pra ninguém. Eu escrevo pra mim. Eu escrevo pra todos. Eu escrevo quando tenho vontade.
Eu escrevo, somente. Apenas pelo ato de escrever.
Escrevo quando estou triste, quando ouço música ou no meio das aulas de antropologia. Escrevo sem motivo, escrevo porque devo, escrevo porque gosto de escrever. Escrevo porque tenho um lápis em mãos. Escrevo em post-its, em paredes e em mim mesma. Porque sei. Porque alguém vai ler. Porque senti que devia escrever.
Escrevo sobre tudo, escrevo sobre nada, sobre pessoas, sobre sentimentos, sobre os sentimentos das pessoas. Escrevo em outras línguas, escrevo em outras formas, conto histórias e não conto nada. Faço à mão e digitado, bonito e desleixado. De tudo que é jeito.
Escrevo. Logo, existo.

4 de abril de 2012

Delírio



Tantas noite em claro esperando por ele. Tantos copos com cheiro de whisky sobre os móveis. Tantaz vezes a maquiagem borrada, destruída por esse choro frio e sem soluços. Ah, tantas pessoas indo e vindo pelas ruas, e ele nunca está entre elas. Ainda assim, espero por ele todas as noites. Pelo dia em que irá bater a minha porta e, recostado no batente, seu olhar encontrará o meu, e todas as palavras que não foram ditas vão estar ali, entre nós.
Já não tenho sonhos. Já não me importo com o que vou vestir pela manhã ou com o que vão pensar de mim quando chegar ao trabalho com essa cara de quem perdeu um grande amor. Já não me importa mais se ouço minha música favorita tocando em algum lugar enquanto caminho pelo asfalto entre prédios e fumaça, mas continuo ansiando pela sua voz, procurando-a onde quer que eu esteja.
Não vou mais ao cinema, nem vou até aquela locadora antiga para alugar meus filmes favoritos. Não leio mais os livros que ele me deu, porque já não tenho vontada de ler, e já não me interesso por gastronomia porque não há quem experimente minha criações. Não tenho mais vontade de fotografar o pôr-do-sol, porque não tenho quem divida comigo o momento, e não escrevo mais versos de amor porque não tenho para quem os recitar.
Meus dias são tão cinzas quanto aqueles olhos. No entanto, não há em meus dias a paixão ardente que havia nos olhos dele. Não há nas brisas que entram por minha janela e acariciam minha pele os seus suspiros quentes. Não há no sol que me acorda pela manhã o calor de seus braços.
Dele, já não há nada.
Não uso mais o casaco que ele me deu, mas durmo com aquela camisa de flanela porque ainda tem o seu cheiro. Durmo no sofá, porque não suporto o excesso de espaço em minha cama, e deixo a porta aberta, alimentando a infantil fantasia de que ele ainda irá voltar.
Ele se foi. Dele, já não há nada. Sua paixão, seus suspiros, seu calor, seu olhar. Ele se foi, e levou tudo de mim. Minha paixão, meus suspiros, meu calor, meu olhar, meu eu. Ele se foi, pra sempre, pra nunca mais voltar. Tudo o que me restou foram as garrafas de whisky e a maquiagem borrada.

3 de abril de 2012

No fundo,

Você sabe que algo está indo errado quando, mesmo depois de tudo, você ainda está esperando por ele.

6 de fevereiro de 2012

A small note.

Me deparei com seu nome em minha velha agenda. Nada muito interessante: apenas uma pequena anotação a lápis, no dia do meu aniversário, que descrevia uma pequena surpresa que você me fez.
Me demorei um pouco na página. Me lembrei do porquê de eu ter anotado aquele gesto, tão simples e singular: porque não queria esquecer. Não queria que aquela sua ação singela caísse no esquecimento de tantos outros aniversários; que aquele sentimento tão doce fosse esquecido em meio a tantos desejos de felicidade e tantos abraços carinhosos. Não queria te esquecer.
Fitei aquela anotação, simples, mas cheia de sentimentos. Me lembrei da nossa conversa, do seu sorriso. Então, meu rosto se fechou.
Me lembrei das noites em claro com você. Dos altos papos que tínhamos juntos sobre nada em particular, das nossas risadas, do nosso dia-a-dia tão comum e tão diferente do comum. Me lembrei da minha insegurança, dos apertos no peito, das conversas cada vez menos freqüentes, da sua voz cada vez mais distante... dos e-mails cada vez menores, dos telefonemas que você nunca atendeu, daquela ligação de 58 segundos que você me fez naquela quinta-feira a noite.
Olhei para aquela pequena nota em minha agenda. Ela me fazia lembrar de muita coisa que eu queria esquecer. Curiosamente, a nota estava escrita a lápis. Talvez eu já esperasse isso de você, afinal.
Haviam outras, em outras páginas, em outras datas. Uma carta que eu devia enviar, um telefonema, um cartão de natal que eu nunca mandei. Várias coisas que eu queria me lembrar, vários vestígios de um passado ao qual eu já não pertenço mais. Vestígios de você.
Me livrei de todos.
Apaguei você da minha agenda. Da minha memória. Da minha vida. Apaguei de mim o passado que fizemos juntos, e construí o meu futuro por cima. Um futuro sem você.