18 de dezembro de 2012

A Máscara



Não procure em mim o que você não consegue encontrar nela. Não procure no meu olhar os olhos de um outro alguém, e não tente encontrar no meu discurso as palavras de outrem. Não é a mim que você quer, então, eu lhe peço, de coração, que não tente me usar para preencher um vazio que você não consegue preencher sozinho. Eu não sou a peça que falta neste quebra-cabeça, e eu não posso me transformar nela.
Não me obrigue a vestir esta márcara apenas para seu deleite. Não atribua a mim um reflexo que não é meu. Não veja em mim uma pessoa que já não existe. Me olhe nos olhos, e me veja. A mim, e a mais ninguém.

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Dedicado à L.
Porque alguem precisa dizer o que você nao pode dizer.

10 de dezembro de 2012

Let it go


Eu sinto muito. Eu não queria te dizer, mas já deu sua hora. Você precisa ir embora, mesmo que isso signifique me deixar para trás. Não há mais nada pra você aqui, você já cumpriu seu papel e agora não pode mais oferecer o que eu preciso. Conforto não vai suprir esse vazio, e disso nós dois sabemos muito bem. Por isso, peço que pare: a sua atenção é, agora, o meu maior problema.
Você precisa ir embora. É melhor que você vá; você precisa me deixar, ainda que me machuque. Não pelo meu bem, mas porque é o que deve ser feito. O que eu sinto por você é muito maior e mais intenso do que o que você sente por mim, e eu sei aonde isso vai nos levar. Eu estava muito bem antes de você chegar e virar tudo de pernas para o ar - não exatamente bem, mas definitivamente melhor do que estou agora.Se você não tinha a intenção de ficar, não deveria ter entrado na minha vida, pra começo de conversa. Foi muito cruel de sua parte fazer essa algazarra em mim e sair sem limpar a bagunça; eu não pedi pela sua ajuda, e você não deveria tê-la oferecido tão despreocupadamente. Agora, você quer ficar em cima do muro, e eu me recuso a deixar isso acontecer.
Não adianta, meu caro. Você não quer ficar, e eu não serei enganada pelas suas palavras doces. Sua gentileza não é necessária, tampouco sua compaixão - já lidei com muitos espinhos e já sei curar minhas feridas. Não ouse me estender a mão se não o fará porque verdadeiramente se importa, mas por achar que é o certo a se fazer; você já fez o que não devia, não tente evitar as lágrimas agora. É justamente a sua bondade que me fere, então não seja bondoso. Não sorria pra mim, não me abrace, não segure minhas mãos, não seja atencioso comigo. Vá, vá embora, de uma vez por todas! Se o seu carinho não é uma mentira, se você realmente se preocupa com esse pobre coração, vá embora e me deixe aqui, sem olhar pra trás.
Eu já não tenho mais forças para resistir à você, e meu coração já não pode suportar mais nenhuma perda. Por isso eu lhe peço, por favor, que você se vá. Se realmente te entristece me ver triste, assuma sua culpa e faça o que é necessário - deixe que eu lide com a minha dor sozinha. Entenda, meu caro, que um objeto de desejo que não pode ser alcançado não é capaz de curar uma dor de amor...

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No it's not meant to be like this.
Not what I planned at all.
I don't want to feel like this.
So that makes it all your fault.
The Walk, Imogen Heap

8 de dezembro de 2012

Condolências

A notícia veio assim, de repente. "Faleceu hoje, pela manhã. O enterro será as 14h."
Não me incomodou o fato de ter recebido a notícia por meio de um SMS. Não me incomodou o fato de descobrir por uma rede social que ele estava na UTI há dias. Não me importava o fato de que eu provavelmente fui a última a saber. Me incomodava o fato de não me sentir incomodada. Estava, por incrível que pareça, pensando comigo mesma que era um bom dia para um velório - o céu nublado, sem nuvens de chuva, sem o sol quente: um dia triste. Eu acabara de receber uma terrível notícia, e estava comentando comigo mesma sobre o clima.
Tomei um banho rápido, e procurei por roupas pretas - afinal, eu devia o mínimo de respeito pelo morto. Não me importei se estava arrumada, porque achei que a ocasião não pedia por isso. Não me sentia triste, também; me sentia indiferente, e me incomodava profundamente saber que um conhecido havia morrido pela manhã e eu não sentia nada a respeito. Uma vida, uma pessoa cheia de pensamentos e inclinações, que tinha um trabalho, amigos e uma história pra contar tinha morrido, e eu não conseguia me importar.
Que tipo de pessoa sem coração era eu, afinal?
No velório, me senti pior. As pessoas choravam compulsivamente - ver a dor estampada no olhar da mãe dele, sua voz embargada e as palavras desconexas, me magoava. Permaneci encostada em um canto qualquer, observando a movimentação, as pessoas que chegavam e se amontoavam sobre a pobre mulher, dizendo coisas como "Ele era um bom rapaz" e "Ele está num lugar melhor agora" - coisas que, para mim, não faziam o menor sentido. Ela conhecia o próprio filho e sabia se era ou não um bom rapaz e, onde quer que ele estivesse - se é que estava em algum lugar que não o caixão onde se encontrava seu corpo -, não era ao lado dela, e essa era a parte que importava. "Somos todos muito insensíveis no fim das contas", concluí. Todos perdem algo em algum momento, mas isso não quer dizer que possamos entender a perda uns dos outros. E, por isso, eu não disse nada.
Não que ninguém devesse tentar consolar os inconsoláveis, mas eu não conseguia deixar de pensar que muitos deles, assim como eu, talvez não sentissem nada e, ainda assim, se achavam no direito de dizer alguma coisa, o que me parecia muito injusto de alguma forma. Ainda assim, uma parte de mim sabia que, de uma forma ou de outra, eu só estava tentando justificar a minha própria indiferença, procurando nela um lado positivo - que eu sabia não existir.
Não demorou muito para que o cortejo se iniciasse. Seguimos em silêncio, embora pudéssemos ouvir alguns soluços e murmúrios. Assim que os primeiros montes de terra caíram sobre a madeira escura, a mãe precisou ser amparada - mais precisamente, impedida de pular junto ao caixão. A cena foi triste, e por um momento tive a certeza de que não a esqueceria. Me perguntei o que faria se fosse minha mãe. Ou meu pai. Ou alguém que eu verdadeiramente amasse, e não quisesse deixar ir embora. Me perguntei como aquela mulher seria capaz de viver sem seu amado filho, e se alguém, além de mim, havia pensado nisso. O que seria dela agora? Não era com o morto que deveríamos estar no preocupando, ele já estava morto de qualquer forma. Será que ir até o velório, enxugar as lágrimas silenciosamente e dizer "meus pêsames" era o suficiente? Eu achava que não.
A coisa toda terminou subitamente, assim como havia começado. Tão logo os coveiros terminaram seu trabalho, as pessoas se disperçaram, como se nada tivesse acontecido. Entraram em seus carros e seguiram para o conforto de suas casas - já não era necessária a presença de ninguém, pois o  motivo que ali os uniu já estava a sete palmos do chão. Não havia mais nada com o que se preocupar.
Com relação ao falecido, eu não senti nada além de indiferença. O conhecia, já conversara com ele, mas era isso, e apenas isso. Por fim, eu só consegui pensar em como somos todos egoístas - se não é uma pessoa por nós amada, nós sequer conseguimos nos incomodar com a morte dela, e isso era triste. Muito triste.

5 de dezembro de 2012

Nosso lugar especial


Naquele banco, em meio às árvores e todo aquele verde, nós nos sentávamos lado a lado, olhando a vida passar. Muita gente passava por nossos olhos, muitas brisas balançaram nossos cabelos e muito tempo passou sem ser percebido. Havia, ali, um mundo totalmente novo, paralelo ao mundo real que tanto buscamos compreender - um mundo nosso, meu e seu.
Naquele banco dividíamos muita coisa - embora eu sempre falasse mais do que você. Aquela conversa descontraída, que parecia não ter muita importância, me era - e ainda é - muito preciosa. Cada palavra que vinha de ti era mágica, e meu mundo girava em função daqueles poucos momentos nos quais você gastava alguns minutos do seu dia ao meu lado. Falávamos sobre tudo e falávamos sobre nada: o conteúdo, em si, não me importava. Talvez mesmo o falar não importasse realmente; era você, ali, sentado ao meu lado, que me era verdadeiramente importante.
Nunca me perguntei o que era. Seja o que tenha sido, o que eu senti por você me passou despercebido, pois a sua amada presença ofuscava qualquer outra coisa que pudesse passar pelos meus pensamentos. Na verdade, nenhuma explicação me parecia necessária, pois viver o momento tomava muito de minha atenção. Fossem discssões fundamentadas em algo de valor, fossem meras palavras jogadas fora, um riso aqui, outro ali... Fosse o que fosse, me fazia feliz.
No entanto, o tempo voa, e a vida vai passando sem a gente perceber.
Você já não senta mais ao meu lado - a tua vida tomou outros rumos agora. Há outra pessoa com quem sua voz dança ao vento, com quem você se senta e espera o tempo passar. O banco, agora, fica vazio - nem eu, nem você, ningém o ocupa. De repente, havia algo mais importante em seu mundo, e o tempo que podíamos juntos jogar fora já não podia ser disperdiçado com uma conversa descontraída, como costumávamos fazer. Seja lá o que eu representava pra você, já não sou mais, e me dói não saber se eu sequer representei alguma coisa. 
O seu sorriso, no entanto, ainda é gentil. Seu abraço ainda é apertado, seu riso ainda é sincero e sua presença ainda é amada, mas seus olhos já não me veem. Seus olhar vai além do que posso ver e, embora me recuse a admitir, a minha vida também está tomando os próprios rumos agora. É triste, mas nós não nos sentamos mais naquele banco, e o que nos era importante naquele momento talvez não mais o seja. Seja lá o que foi que compartilhamos, já não está ao nosso alcance. Agora, um outro par vai ocupar o nosso lugar - que foi tão nosso! -, e ali contruirá um novo mundo, em cima das nossas ruínas.
A vida passa e o tempo voa, e, por fim, nós voamos com ele.


1 de dezembro de 2012

Esse mal estar de quatro letras

Às vezes meu estômago resolve esquecer o real propósito de sua existência, e se põe a dançar em um ritmo muito incômodo. Me dá vontade de vomitar.
E, se possível, eu muito gostaria de, também, vomitar esses sentimentos todos que eu tenho por você. Não me fazem muito bem, se é que me entende.
Mas, fazer o quê? É mais ou menos assim que a coisa funciona: nem remédio me cura de ti. E agora fico aqui, sentada, esperando essa dor passar.
Essa dor, sabe, de amor.