11 de junho de 2020

Entre linhas

O meu erro foi seguir pensando que eu estava errada e, com isso, que estava nas minhas mãos a possibilidade de consertar as coisas.
É fácil fazer essa confusão quando se está entre pessoas omissas. Essas, que fingem não ver, não ouvir, e nada dizem. Essas, que me olham nos olhos e, ainda assim, não veem nada - essas cujos olhos só veem as coisas passadas, os medos de infância e os fantasmas dos mortos que ainda lhes assombram.
Meu erro foi pensar que eu estava sendo vista pelos olhos que sempre me encaram com desdém. Que é de mim que falam, a mim que odeiam e a mim que não suportam. Meu constante erro é pensar que as pessoas que estão a minha volta estão, de fato, se relacionando comigo.
Já não me falta coragem, pois diante dos horrores da minha história, pouca coisa me assusta. Já não me falta incentivo, pois os limites foram todos ultrapassados. Já não me faltam, também, tentativas e frustrações - pois destas eu pude criar uma pequena coleção nos últimos anos.
Me falta, às vezes, amor. Mas foi engano meu buscar ele fora de mim. Foi engano meu não me atentar ao fato de que da mesma essência que crio monstros e decepções, posso criar guardiões e novas histórias. Que do mesmo caldo que saem meus pesadelos, eu posso fazer sonhos. Que da mesma cabeça que sai a pior versão de mim mesma, pode sair também um tico de esperança.
Meu erro foi achar que cabia a mim consertar o outro. Meu erro foi achar que era o ódio, a decepção e a expectativa do outro sobre mim que me magoava. Meu erro foi não perceber que o outro é tão desumano quanto a voz da minha cabeça; que o outro é tão responsável quanto eu por suas próprias decisões. Meu erro foi confundir as histórias que me contavam com a realidade, e acreditar nos contos e pontos que me foram colocados cegamente.
Entre as linhas e entrelinhas eu já não consigo mais ficar. Entre omissos e submissos não é mais o meu lugar, e eu falhei em insistir em terras de onde nada brota. o meu lugar não é entre essas linhas, mas entre minhas próprias páginas - onde quem me olha me vê, quem me ouve me escuta e quem me fala, fala pra mim. Meu lugar nunca foi aqui, e meu erro foi pensar que eu era bem-vinda.
O que me falta é paciência. E, quem sabe, um pouco de paz também.