29 de abril de 2016

Auto-crítica.

Fui desafiada a escrever um texto. Em parte, não quis fazê-lo - tive certeza de que tentaria "o meu melhor", visto que seria avaliada. Sempre somos avaliados, o tempo todo, em todo lugar. O negócio é que, no dia seguinte ao "desafio", passei por uma situação onde pessoas queridas, colegas, amigos, estavam apontando para mim os meus erros - "erros" sendo a palavra que eu escolhi, veja bem - e embora talvez não tenha aparentado, eu quis chorar. Me veio quele bolo na garganta, amigo de longa data, que eu reconheço de vista, não importa a distância.
A questão é: naquele momento, eu não estava sendo julgada. Ninguém estava "apontando meus erros"; estavam me ajudando a pensar uma determinada situação. E quando eu verbalizei a minha frustração, minha incapacidade diante da tal situação (que é novidade pra mim, daí a tal incapacidade, que na verdade é inexperiência), me foram apontadas as qualidades. "Você não viu isso, mas percebeu que [...]", "Você não disse isso, mas o que você fez [...]", "Você fez tudo isso, aconteceu tudo isso, e você diz 'só'?". E nossa experiente mentora me disse: você precisa acreditar mais em si mesma.
A mente da gente é fantástica, nos levando pelos caminhos mais improváveis. No conforto da minha casa, com esse turbilhão de coisas na minha cabeça, me peguei pensando na miha relação com os erros. Que não importa, pra mim, ter clareza de que as pessoas querem me ajudar, de que as pessoas veem a situação de uma maneira diferente - sou eu quem está errada. Sempre. Eu falho. Eu erro. Eu não sou boa o suficiente. Pra quem? Pra mim mesma. Pra quem?
Pensei em escrever a respeito, e me veio à mente a música "Pais e Filhos". Me lembrei daquele dia em que, sentada numa cadeira, chorando até desidratar, meu pai me dizia que eu não era suficiente. Gorda. Burra. Sempre errada. Não faz nada direito. Não quer fazer direto. E, aos 23, me senti com 14, chorando sozinha, ouvindo Renato dizer: é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Eu só queria ser boa o suficiente.
E eu tento. Continuo tentando. "Você é o orgulho da família", ouvi no almoço familiar, naquele fim de semana do feriado. E sorri. E me lembrei de "Bia, você tem tantos pacientes, eu quero ser igual a você", e eu ri. E eu nunca agradeço aos elogios, porque não sou merecedora deles.
Eu não sou boa o suficiente.
Não importa o quanto os outros me digam que eu sou boa, inteligente, bonita, divertida, eficiente, eu já sei. Eu sempre soube. Eu sempre soube que tudo o que era capaz de fazer, mesmo aos 14 anos - e, ainda assim, não foi suficiente. Por que seria agora?
Nós somo julgados, avaliados, em todo lugar, o tempo todo. Mas o pior juiz é o que vem de dentro. Desse, a gente não se esconde. Desse, a gente não se livra. Ele está sempre ali, acima de nós, nos observando, avaliando e nos lembrando de todos os erros incorrigíveis, imperdoáveis, até os menores.
Eu preciso ser boa o suficiente. Acima de tudo, pra mim mesma. Como me foi bem colocado hoje: "você é muito auto-crítica". Talvez, porque se eu criticar a mim mesma, e corrigir a mim mesma, e avaliar a mim mesma, eu não precisarei sentar na cadeira, chorando, ouvindo essas palavras chegando de fora.
O que dói mais?