tag:blogger.com,1999:blog-34743444363845889542024-03-05T16:11:19.803-08:00Yuki no YouniShanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.comBlogger101125tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-24402801136948617572021-11-05T20:26:00.000-07:002021-11-05T20:26:30.384-07:00Sem arSaí da bolha. E foi péssimo.<br>
Foi péssimo me perceber imatura, incapaz e tantas outras coisas. Tem sido péssimo perceber que não me encaixo, que não tenho limites, que não evoluí nada nos últimos anos, dentre tantas outras coisas que me incomodam. E embora minha terapeuta me diga que eu ando "individualizando" minha culpa, eu não consigo não me sentir o suficiente. Eu nunca vou ser o suficiente, não sei se para o mundo ou se para mim mesma. E a cada dia que passa eu tenho menos e menos vontade de aprender, de ser melhor, de chegar a algum lugar.<br>
Eu não quero voltar para a bolha. Mas talvez eu esteja sem ar fora dela, e a sensação que eu tenho é que a escolha certa é sufocar.<br>Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-24495501046193763062021-02-05T09:05:00.003-08:002021-02-05T09:05:29.739-08:00Em mim só existe ódioHoje eu acordei com raiva.<br>
Uma mistura de raivas passadas, que me assombram, de raivas presentes, que me queimam viva por dentro, e talvez até de raivas futuras, que eu sei que estão à espreita.<br>
Eu quero me cortar inteira. Fincar uma lâmina em meus braços e rasgar toda a minha derme, meus músculos, minhas veias. Marcar meus ossos com todo o ódio que eu sinto, fazer arte com o sangue que ferve dentro de mim.<br>
Eu quero degolar o meu pescoço, e verter o fluído da vida que me preenche. Eu quero sangrar, sofrer, gritar e arder em chamas, carbonizar meus membros, arrancar os cabelos, perfurar os olhos.<br>
Eu tenho sede de sangue.<br>
E me dói, me entristece, me desgasta que eu engula todo esse ódio sozinha. Que eu seja capaz de fantasiar as mais terríveis torturas para comigo mesma. Que ninguém além de mim ouça esses pensamentos, que não me enchem de culpa como deveria de ser. Me desgasta voltar constantemente a esse lugar de opressão, de violência e de tortura, e que esse desejo de morte siga me acompanhando pela extensão dos meus dias. Me entristece pensar que os anos se passam, e ainda vão se passar muitos outros, e a única essência que em mim permanece é o ódio.<br>
Eu me odeio. E eu me iludo pensando que um dia vou me amar, respeitar e cuidar como se espera de uma pessoa adulta, saudável e sensata. Eu me odeio porque não posso odiar quem me fere, quem me magoa, quem me machuca. Eu me odeio porque me dizem que sou odiosa, que sou terrível, um monstro com garras e dentes afiados. Eu me odeio porque nunca aprendi a amar. Porque nunca me sinto amada, acolhida, desejada, respeitada.<br>
Eu tenho ódio, porque foi isso que o mundo ensinou pra mim.<br>
E cada dia sem rasgar meu corpo, sem verter meu sangue, sem tirar de mim a vida, é mais um dia que se perde na imensidão do tempo. Cada dia viva é um desperdício. Cada dia viva é mais uma razão pra odiar a minha existência.<br>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-53057012279285431262020-06-11T16:29:00.001-07:002020-06-11T17:16:43.911-07:00Entre linhas<div style="text-align: justify;">
O meu erro foi seguir pensando que eu estava errada e, com isso, que estava nas minhas mãos a possibilidade de consertar as coisas.</div>
<div style="text-align: justify;">
É fácil fazer essa confusão quando se está entre pessoas omissas. Essas, que fingem não ver, não ouvir, e nada dizem. Essas, que me olham nos olhos e, ainda assim, não veem nada - essas cujos olhos só veem as coisas passadas, os medos de infância e os fantasmas dos mortos que ainda lhes assombram.</div>
<div style="text-align: justify;">
Meu erro foi pensar que eu estava sendo vista pelos olhos que sempre me encaram com desdém. Que é de mim que falam, a mim que odeiam e a mim que não suportam. Meu constante erro é pensar que as pessoas que estão a minha volta estão, de fato, se relacionando comigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Já não me falta coragem, pois diante dos horrores da minha história, pouca coisa me assusta. Já não me falta incentivo, pois os limites foram todos ultrapassados. Já não me faltam, também, tentativas e frustrações - pois destas eu pude criar uma pequena coleção nos últimos anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Me falta, às vezes, amor. Mas foi engano meu buscar ele fora de mim. Foi engano meu não me atentar ao fato de que da mesma essência que crio monstros e decepções, posso criar guardiões e novas histórias. Que do mesmo caldo que saem meus pesadelos, eu posso fazer sonhos. Que da mesma cabeça que sai a pior versão de mim mesma, pode sair também um tico de esperança.</div>
<div style="text-align: justify;">
Meu erro foi achar que cabia a mim consertar o outro. Meu erro foi achar que era o ódio, a decepção e a expectativa do outro sobre mim que me magoava. Meu erro foi não perceber que o outro é tão desumano quanto a voz da minha cabeça; que o outro é tão responsável quanto eu por suas próprias decisões. Meu erro foi confundir as histórias que me contavam com a realidade, e acreditar nos contos e pontos que me foram colocados cegamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Entre as linhas e entrelinhas eu já não consigo mais ficar. Entre omissos e submissos não é mais o meu lugar, e eu falhei em insistir em terras de onde nada brota. o meu lugar não é entre essas linhas, mas entre minhas próprias páginas - onde quem me olha me vê, quem me ouve me escuta e quem me fala, fala pra mim. Meu lugar nunca foi aqui, e meu erro foi pensar que eu era bem-vinda.</div>
<div style="text-align: justify;">
O que me falta é paciência. E, quem sabe, um pouco de paz também.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-3246992994082614672017-08-08T17:43:00.000-07:002017-08-08T17:43:01.819-07:00De mim não resta nada<div style="text-align: justify;">
Eu olhei pra você por muito tempo. Seus olhos e sorrisos, seus trejeitos e maneirismos, e posso dizer com certa propriedade que te conheço. Eu aprendi a te amar, respeitar e necessitar. Eu aprendi que, antes de mim, havia o mundo. Havia você e todas as coisas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi assim que eu aprendi a ser o que sou. O que você espera, o que você deseja, e te olhando eu sabia exatamente o que fazer. Para cada pergunta, a resposta. Para cada situação, um comportamento. Para cada pessoa, uma eu. Mais do que uma atriz, eu sou uma diretora - eu sei distribuir os papéis para cada história. Se você me ataca, eu sou a vítima. Se você me machuca, eu sofro. Se você vai embora, eu ouço atentamente sua voz distante, e diferencio se devo ir até você ou te deixar partir. Eu sou o que se espera, pois antes de mim, havia o mundo, você e todas as coisas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Me ensinaste que eu deveria tratar-te como gostaria de ser tratada. Então eu cuidei de você. Eu te dei minha atenção e meu carinho, eu te olhei e ouvi atentamente, eu estive contigo e respeitei teu espaço. Eu preenchi o seu silêncio e te permiti mergulhar nele, te toquei e me abstive quando precisaste. Eu te olho como a coisa mais preciosa que existe no mundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas talvez, só talvez, eu quisesse ser olhada. Talvez eu quisesse sorrir junto de ti, e não como você. Talvez eu queira descer do palco e ser olhada sem a maquiagem, sem as roupas bonitas, sem os sapatos altos. Talvez eu queira falar baixinho, no tom que me agrada, sem me preocupar com os ouvidos da platéia.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não posso. Pois antes de mim, havia o mundo, você e todas as coisas. Todas as coisas que eu via, e ouvia, e sentia, e que nunca fizeram parte de mim. Todas as coisas sobre as quais eu tenho controle, mas não posse. A maquiagem, as roupas, os sapatos e o palco não me pertencem - eu faço uso deles para que meu personagem possa brilhar. Eu empresto meu corpo, minha voz, minha alma e coração para que ele possa viver nesse mundo, com você e todas as coisas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Então não tente me encontrar. Não tente olhar por dentro do meu corpo, pois não há nada para ser visto. Não me peça para ser autora de uma história que nunca me pertenceu. Eu olhei pra você por tanto, tanto tempo, que quando fui apresentada ao espelho, vi a sua imagem. Você não pode cavar o meu corpo e esperar encontrar um tesouro - você vai cavar, e cavar, e cavar, me atravessar por inteiro e nunca vai encontrar o meu núcleo. O magma, a chama, o calor. Eu sou uma superfície de vidro, com uma fina camada de prata e uma bela moldura. Se você tentar me cavar, você me partirá em vários e vários pedaços. Talvez você possa juntá-los novamente e me reconstruir, mas eu nunca serei mais do que isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não me vejo no espelho. Eu vejo a sua imagem, olhando pra mim, os os mesmos olhos que eu observei durante todos esses anos. Eu sou o reflexo do mundo, de você e de todas as coisas. Antes de mim, havia uma imagem. Eu sou a cópia.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sou o espelho, e de mim não resta nada além do seu reflexo. O que mais você espera ver quando olha pra mim?</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-91164321961479182442016-10-03T00:03:00.002-07:002016-10-03T00:03:53.749-07:00Couraça<div style="text-align: justify;">
Eu me ajoelhei e pedi aos deuses que me dessem forças, pois a ciência já não era capaz de lidar com o que restava do meu coração. Os livros e teóricos explicariam como funcionava cada célula que mantinha meu corpo funcionando, mas jamais seriam capazes de prover a força da qual eu necessitava todos os dias para levantar da cama. Depois de tantos anos aprimorando a armadura que me protegia dos males do mundo, ela tornara-se muito pesada para meus ossos frágeis.</div>
<div style="text-align: justify;">
Levantei, lavei meu rosto, vesti-me bem e, ao me encarar no espelho, vesti minha armadura. A pesada proteção, invisível aos olhos, por vezes um fardo ao qual me acostumei a carregar. Fossem gestos, palavras, momentos ou olhares, o mundo era cruel, e cada pequeno movimento da terra parecia acertar-me em cheio no peito. Viver é belo, mas nunca é fácil. A vida, por vezes, machuca, e nem sempre conseguimos aguentar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Saí de casa, e nem mesmo os fones nos ouvidos conseguiam abafar o tilintar da couraça contra o chão. Meus ombros largos pareciam minúsculos dentro dela. Por dentro da casca de mulher feita e responsável, havia ainda uma menina insegura e assustada, que precisava esconder-se do mundo para sobreviver. A vida é, por vezes, selvagem, e vence aquele que consegue permanecer vivo ao final do dia. Vence aquele que consegue sobreviver aos ataques, aos ferimentos, às flechadas e apunhaladas dos demais. Vence o direito de viver mais um dia aquele que consegue suportar a dor com um sorriso no rosto e com resiliência no peito.</div>
<div style="text-align: justify;">
A cada dia, quando abro os olhos, sei que acordo vitoriosa. Acordar e sentir o ar encher os pulmões é a certeza de ter vencido mais uma batalha. Mas a luta cansa. Cansa, fere e mata aos poucos - e desistir da batalha é entregar-se aos dentes dos cães. É preciso muito para não perecer aos pés do outro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Minha armadura pesa. E, mais uma vez, eu peço aos deuses que me permitam mais uma vez lutar por mim. Que me deem a força. Que me permitam viver mais um dia.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-29739271694125508362016-08-02T10:35:00.000-07:002016-08-02T10:35:09.854-07:00Contemplando-se<div style="text-align: justify;">
Na altura dos vinte e poucos anos, ela olhou para si mesma e contemplou sua vida. Era vazia, solitária e carregada de arrependimentos por dentro - embora aparentasse exatamente o oposto. Sabia mais ou menos como havia chegado naquele lugar, mas àquela altura já não era possível refazer o caminho e mudar os acontecimentos. Então fez a única coisa que podia fazer: conformou-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
O que dependia dela, mudaria. O que pudesse fazer, faria. O que estivesse além de seus limites, deixaria pra lá.</div>
<div style="text-align: justify;">
Olhou pela janela e viu o dia nublado. E pensou no quão nublada era sua própria história, repleta de pontos cegos e nuvens espessas. Às vezes, gostaria de ver através da fumaça, depois pensava que poderia haver um motivo para que algumas coisas fossem obscuras, e deixava para lá. E então, de vez em quando, percebia que o que deixava para lá era ela mesma, e sentia que havia falhado mais uma vez.</div>
<div style="text-align: justify;">
"Algumas coisas estão além de nós", pensou, enquanto contemplava uma série de relações fracassadas. Entre amigos, entre familiares, entre colegas de trabalho. E pensou no quanto quisera mudá-las, fazê-las melhores, e não podia simplesmente porque não dependia dela.</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi por isso, concluiu, que fechou-se em si mesma: o único mundo sob o qual ainda tinha algum controle. E não que tudo precisasse obedecer à sua vontade, mas porque estava cansada de ser submetida a força da correnteza de outros mares, de machucar-se nas pedras e afogar-se nas águas. Se tivesse mesmo de mergulhar, que fosse nas profundezas de si mesma, e tanto as pedras quanto os corais seriam seus. E se as pedras lhe machucassem, ao menos saberia onde não deveria mais pisar. E vez ou outra, quando contemplasse os corais e peixes e sentisse o frescor da água na pele, poderia sentir-se satisfeita ao saber que a beleza pertencia a si mesma, e não precisava buscar a felicidade em nenhum outro lugar.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-13098693678528782672016-07-14T22:29:00.001-07:002016-07-14T22:51:22.003-07:00Conhecer-se e amar-se<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7VYC_Sd0bV2Qwl_Ef2R2FR9sFHdywLKMD0ON8HTgqBvlD1qEih6r1-K7F7epmuLZsewI0jL9PGxc2K8UFKuzhMM-zzeu1FKmlAFnD9vnAwDC8zK9n6Mfl0bVgDMVrXttSza83bOfejNo/s1600/runin.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7VYC_Sd0bV2Qwl_Ef2R2FR9sFHdywLKMD0ON8HTgqBvlD1qEih6r1-K7F7epmuLZsewI0jL9PGxc2K8UFKuzhMM-zzeu1FKmlAFnD9vnAwDC8zK9n6Mfl0bVgDMVrXttSza83bOfejNo/s1600/runin.png" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Existem coisas em nós que só podemos compreender com o passar dos anos. Como se dentro de cada um houvesse um grande labirinto, com passagens secretas, cujos macetes e senhas só se aprende com o tempo. Envelhecendo. Mas ao longo da vida temos algumas pistas, alguns vislumbres, pequenas peças que vamos juntando e formando o grande quebra-cabeça que somos nós.</div>
<div style="text-align: justify;">
Desde criança, eu tenho essa sensação de que as pessoas não me vêem realmente. Olham pra mim e enxergam uma pessoa, com suas qualidades, defeitos, características em geral, mas não é a mim. Nós últimos anos, dei-me conta de que eles vêem uma imagem outra, uma ilusão - alguém que não sou eu. Percebi o ocorrido quando notei que já não consigo mais corresponder às expectativas alheias, mas não por falta de vontade e esforço, e sim porque não é mais possível. Eu, infelizmente, não consigo ser nada além de mim mesma.</div>
<div style="text-align: justify;">
O que esperam de mim, por vezes, é plausível. Seja mais educada, mais doce, menos dura com as pessoas. Dedique-se mais, faça sem que lhe peçam, fale de maneira mais delicada. Vista-se melhor, perca peso, tire notas melhores. São mudanças possíveis, eu sei. Mas, por vezes, me pedem coisas que não posso fazer. Não <i>seja</i> assim. Não <i>fale</i> assim. Não <i>pense</i> assim. Não se <i>comporte</i> assim. Não seja assim, <i>quem você é</i>, pois não gostamos de você <i>assim</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quem vocês esperam que eu seja, exatamente?</div>
<div style="text-align: justify;">
Me dei conta de que, às vezes, as pessoas não esperam que eu mude. Elas esperam de mim coisas que eu não faço, não consigo, não sou. Para que me amem, respeitem e sejam menos duras comigo, preciso tornar-me alguém diferente - alguém que vá de encontro com suas expectativas, que encarne suas ilusões de mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não posso ser nenhum outro alguém que não eu mesma. Não posso, não vou e não quero. E não há nada, a essa altura, que possa me convencer do contrário. Gastei tempo demais ao longo da vida tentando corresponder às expectativas das outras pessoas e falhando comigo mesma. Eu conheço os caminhos do meu labirinto agora. Descobri algumas passagens secretas, caminhos obscuros, macetes e manhas - eu sei onde estou agora. Ainda não sei ao certo para onde estou indo, mas sei de onde vim e onde estou - e sei que não posso tomar outro caminho que não o meu próprio.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os outros precisam me ver. Não com véus translúcidos ou lentes coloridas, mas sim com minhas formas e cores. Minhas curvas e linhas. Me vejam como eu sou, e aceitem o fato de que eu não sou quem vocês desejam, mas sou outra pessoa. Sou eu mesma! E sinto lhes dizer que quero celebrar-me - quero frustrar as expectativas dos outros e minhas próprias, quero encontrar meus defeitos e falhas e, por meio deles, conhecer a mim mesma. Quero me permitir amar e ser amada de uma maneira que só eu possa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Conheçam a verdadeira eu. E, se não gostarem, por favor, não se incomodem! A porta fica logo ali.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-65555255491408545592016-04-29T14:45:00.001-07:002016-04-29T14:45:27.865-07:00Auto-crítica.<div style="text-align: justify;">
Fui desafiada a escrever um texto. Em parte, não quis fazê-lo - tive certeza de que tentaria "o meu melhor", visto que seria avaliada. Sempre somos avaliados, o tempo todo, em todo lugar. O negócio é que, no dia seguinte ao "desafio", passei por uma situação onde pessoas queridas, colegas, amigos, estavam apontando para mim os meus erros - "erros" sendo a palavra que eu escolhi, veja bem - e embora talvez não tenha aparentado, eu quis chorar. Me veio quele bolo na garganta, amigo de longa data, que eu reconheço de vista, não importa a distância.</div>
<div style="text-align: justify;">
A questão é: naquele momento, eu não estava sendo julgada. Ninguém estava "apontando meus erros"; estavam me ajudando a pensar uma determinada situação. E quando eu verbalizei a minha frustração, minha incapacidade diante da tal situação (que é novidade pra mim, daí a tal incapacidade, que na verdade é inexperiência), me foram apontadas as qualidades. "Você não viu isso, mas percebeu que [...]", "Você não disse isso, mas o que você fez [...]", "Você fez tudo isso, aconteceu tudo isso, e você diz 'só'?". E nossa experiente mentora me disse: você precisa acreditar mais em si mesma.</div>
<div style="text-align: justify;">
A mente da gente é fantástica, nos levando pelos caminhos mais improváveis. No conforto da minha casa, com esse turbilhão de coisas na minha cabeça, me peguei pensando na miha relação com os erros. Que não importa, pra mim, ter clareza de que as pessoas querem me ajudar, de que as pessoas veem a situação de uma maneira diferente - sou eu quem está errada. Sempre. Eu falho. Eu erro. Eu não sou boa o suficiente. Pra quem? Pra mim mesma. Pra quem?</div>
<div style="text-align: justify;">
Pensei em escrever a respeito, e me veio à mente a música "Pais e Filhos". Me lembrei daquele dia em que, sentada numa cadeira, chorando até desidratar, meu pai me dizia que eu não era suficiente. Gorda. Burra. Sempre errada. Não faz nada direito. Não quer fazer direto. E, aos 23, me senti com 14, chorando sozinha, ouvindo Renato dizer: é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Eu só queria ser boa o suficiente.</div>
<div style="text-align: justify;">
E eu tento. Continuo tentando. "Você é o orgulho da família", ouvi no almoço familiar, naquele fim de semana do feriado. E sorri. E me lembrei de "Bia, você tem tantos pacientes, eu quero ser igual a você", e eu ri. E eu nunca agradeço aos elogios, porque não sou merecedora deles.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não sou boa o suficiente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não importa o quanto os outros me digam que eu sou boa, inteligente, bonita, divertida, eficiente, eu já sei. Eu sempre soube. Eu sempre soube que tudo o que era capaz de fazer, mesmo aos 14 anos - e, ainda assim, não foi suficiente. Por que seria agora?</div>
<div style="text-align: justify;">
Nós somo julgados, avaliados, em todo lugar, o tempo todo. Mas o pior juiz é o que vem de dentro. Desse, a gente não se esconde. Desse, a gente não se livra. Ele está sempre ali, acima de nós, nos observando, avaliando e nos lembrando de todos os erros incorrigíveis, imperdoáveis, até os menores.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu preciso ser boa o suficiente. Acima de tudo, pra mim mesma. Como me foi bem colocado hoje: "você é muito auto-crítica". Talvez, porque se eu criticar a mim mesma, e corrigir a mim mesma, e avaliar a mim mesma, eu não precisarei sentar na cadeira, chorando, ouvindo essas palavras chegando de fora.</div>
<div style="text-align: justify;">
O que dói mais?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-74418165585973735172016-02-01T16:04:00.001-08:002016-02-01T16:04:24.719-08:00Sobre a chatice? Sou chata porque quando ele estava com uma hemorragia interna - que, diga-se de passagem, o levou a morte - eu fui a única a perceber e me preocupar. Sou chata porque eu quero cuidar daquilo que amo. Sou chata porque sou responsável.<br />
E vou continuar sendo, lide com isso.Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-84180302951456518012016-01-18T15:17:00.000-08:002016-01-18T15:17:17.772-08:00Partes de mim<div style="text-align: justify;">
Meus fantasmas sempre voltam.</div>
<div style="text-align: justify;">
E isso me frustra na medida em que a cada vez que me deparo com um deles, percebo que não saí do mesmo lugar. Ou, ainda - na pior das hipóteses -, que cada um deles faz parte de mim, me compõem, sou eu. Essa confusão, esse turbilhão, essa tempestade nunca vai cessar. O sol nunca vai sair - porque a tempestade vem de dentro.</div>
<div style="text-align: justify;">
A tempestade sou eu.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
__________</div>
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a2c4c9;">Shards of me </span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a2c4c9;">Too sharp to put back together </span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a2c4c9;">Too small to matter </span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a2c4c9;">But big enough to cut me into so many
little pieces</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;">Evanescence - Breath no More</span></div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-19455313601232852992015-11-10T20:44:00.000-08:002015-11-10T20:44:04.643-08:00Noite insone<div style="text-align: justify;">
Encosta a cabeça no travesseiro. Por alguns minutos, sente que pode entregar-se ao mundo dos sonhos. Sente o cansaço, sente a leve pontada da enxaqueca ali, na têmpora direita. Acordou antes do sol nascer, e espera que conseguirá o merecido descanso essa noite.</div>
<div style="text-align: justify;">
O travesseiro fica quente. O ventilador não alivia o suficiente. A luz da lua que penetra no recinto, mesmo com as venezianas fechadas, incomoda. O colchão está torto, não encontra posição pra dormir, os pensamentos correm soltos pela noite. O dia passa por detrás dos olhos, as preocupações de outrora passeiam pelos devaneios. Devaneios, viagens, frases, músicas, imagens, pessoas, momentos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Passam-se duas horas. Desiste, vai ler um livro. Tem de sair de casa a menos de cinco horas dali.</div>
<div style="text-align: justify;">
O dia será difícil amanhã.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-49382680497042059582015-10-21T14:52:00.000-07:002015-10-21T14:52:12.154-07:00No olho do furacão<div style="text-align: justify;">
Por vezes, eu não encontro as palavras certas - ou mesmo quaisquer palavras - para expressar o que se passa dentro de mim. Da minha cabeça, do meu coração, do meu ser. É um misto estranho de cansaço, de frustração e de impotência, ao mesmo tempo que sou levada - por mim mesma - a agir como onipotente, como dona de mim e do mundo ao meu redor. Como se todos os meus problemas fossem única e exclusivamente minha responsabilidade, mas ao mesmo tempo não tenho mecanismos para resolvê-los.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não tenho?</div>
<div style="text-align: justify;">
Tenho sim. Me falta é a vontade. Algo que me movimente, que me motive. Talvez até existam motivações, na verdade. Existem as necessidades do mundo que eu preciso dar conta - preciso? Não sei. Mas elas estão aí, e eu sinto que preciso dar conta. Preciso dar conta do mundo, mas não dou conta de mim. Se não eu, quem dá conta de mim?</div>
<div style="text-align: justify;">
É um misto de precisar ser autossuficiente e, ainda assim, precisar de cuidado, carinho e atenção. Como um bebê que precisa dos cuidados da mãe e, se abandonado, não sobreviverá. Contudo, eu já não sou esse bebê. Eu me alimento sozinha, me troco, me cuido, dou conta das minhas necessidades. Mas, ao mesmo tempo, é como ser um bebê autossuficiente: eu dou conta das necessidades, mas vez ou outra vem essa sensação de que eu não deveria dar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não sei o que eu preciso, e essa busca incerta, esse caminho torto, esse breu onde nada se vê, é o que me apavora. Como chegar, sem saber onde ir? Onde é esse "onde"? E porque eu deveria "chegar" lá? E se "lá" na verdade for "aqui"?</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não dou conta.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-72371424813249131682015-10-09T16:38:00.001-07:002015-10-09T16:38:28.286-07:00Programa de gente chata<div style="text-align: justify;">
O meu café não estava descendo amargo não, embora a situação estivesse amarga. Já fazia um tempo que não dávamos mais bom-dia uma pra outra, que o ambiente ficava silencioso quando o ocupávamos ao mesmo tempo e que eu recebia umas respostas meio atravessadas, em vez de diretas. Mas não me incomodava muito. Quer dizer, é claro, vinha aquela vontade de virar a mão num tapa e alguns palavrões, vez ou outra, subiam até a garganta. Mas eu não achava que fazia tanto sentido - tantas pessoas vem e vão nessa vida, será que eu preciso sair do meu caminho pra sacudir alguém que não quer andar por ele comigo?</div>
<div style="text-align: justify;">
Além disso, eu tenho certa experiência de vida. Não aquela sabedoria ancestral, que algumas pessoas desenvolvem depois de ver e passar por muita coisa, mas eu conheci uma quantidade considerável de gente até agora, na minha breve vida. Eu sei que as pessoas às vezes não ficam pra sempre - a diferença está em como elas decidem ir embora. Algumas só vão. Outras acabam indo quase sem querer. E tem essas tipo essa garota, que precisam fazer toda uma encenação digna de ópera antes de partirem. E a gente tem essas escolhas, de atuar junto, ficar assistindo ou, sei lá, mudar de canal - afinal, sou da geração que só assiste ópera se for pela TV a cabo.</div>
<div style="text-align: justify;">
A vida é assim, feita de escolhas. E quem manda no controle remoto é você. Então se você não tá curtindo o programa, mude de canal, ora essa. Sofrer por opção é coisa de gente masoquista, e eu estou pendendo bem mais pro lado sádico da vida.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-59898209970314071912015-09-23T14:16:00.001-07:002015-09-23T14:16:42.452-07:00E se?<div style="text-align: justify;">
Hoje procurei seu nome. Mais uma vez, não obtive nenhuma resposta - você nunca deixou rastros de qualquer maneira. Me perguntei, então, por que vez ou outra eu procuro por você, na imensidade desse mundo. É difícil esquecer-se de um rosto que nunca se viu, de uma voz que nunca se ouviu, de um amor que nunca se concretizou, porque eternamente me pergunto: e se? </div>
<div style="text-align: justify;">
Facilmente vejo a mim mesma sentada na varanda, em uma cadeira de balanço, lendo um livro que talvez não queira verdadeiramente ler e, ao olhar para o horizonte, me lembrarei de você. E pensarei: e se? E se tivesse sido diferente, e se tivéssemos tentado, e se na verdade você nunca existiu de fato e tudo não passou de um sonho meio lúcido, fantasioso?</div>
<div style="text-align: justify;">
E se eu conseguisse te esquecer totalmente, de uma vez por todas?</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-77055051779531465392015-08-15T17:49:00.001-07:002015-08-15T17:49:45.914-07:00Vestígio II<div style="text-align: justify;">
O sol se punha, a uma leve brisa dançava por entre as folhas da árvore na qual se recostavam. Ali, os dias terminavam assim, calmos, serenos, tranquilos. Ela podia sentir o peso e o calor da cabeça deitada em se ombro - embora o calor parecesse estender-se ao se peito e às maçãs do rosto. Podia quase ouvir a respiração pesada, e uma certa dor incomoda nas costas, mas mais do que tudo, podia senti-lo ali, ao seu lado. Sabia que uma dama não deveria ser egoísta, e que deveria conter seus desejos impertinentes, mas queria que tais momentos perdurassem. Ansiava pelo pôr-do-sol todos os dias, fingindo ler um romance qualquer, e podia sentir o coração explodir dentro do peito ao vê-lo caminhando em sua direção, com um riso sem jeito. Fazia cara de desinteresse, "Uma dama não pode aproveitar a brisa enquanto lê?", e sentia borboletas no estômago ao ouvi-lo rir. "Sim, ela pode. E poderia este cavalheiro desfrutar de sua companhia?"</div>
<div style="text-align: justify;">
Não se conteve, e permitiu-se brincar com as madeixas escuras entre seus dedos finos, fascinada com o contraste entre os fios negros e sua pele alva. Permitiu-se beijar-lhe, no topo da cabeça, e voltou sua atenção ao céu, pedindo que o vento esfriasse o calor de suas bochechas. Se fosse mais atenta, perceberia não ser a única com as faces avermelhadas, mas estava muito perdida nas próprias fantasias para notar que o homem a seu lado compartilhava do mesmíssimo desejo.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-45974106871029192372015-08-14T19:09:00.003-07:002015-08-14T19:09:52.341-07:00Vestígio I<div style="text-align: justify;">
Ela correu por entre os galhos, segurando o vestido entre uma das mãos. A barra longa de linho já vira dias melhores, mas ela não se preocupava com isso agora. Vez ou outra, parava por alguns segundos para tomar ar e olhar as estrelas, orientando seu caminho. Ao olhar para trás, ainda podia ver as chamas dançando no céu, a fumaça negra se estendendo entre as nuvens. Em outras circunstâncias, deixar-se-ia levar pelas lembranças da suntuosa mansão, dos dias de calmaria, dos risinhos entre os corredores e cantos - agora, contudo, precisava escapar. Precisava viver para cumprir a vingança.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eles pagariam. Por cada gota de sangue derramado, por cada flor pisoteada no jardim, por casa choro abafado entre as pequenas mãozinhas, acuadas entre os cantos e corredores. Por cada sopro de vida ali tomado, por cada último suspiro. Por cada pedaço de linho queimado pelas chamas de tal tragédia. Eles pagariam. Ainda que tivesse de sujar as próprias mãos com o vermelho rubro de cada um daqueles monstros em pele de homem.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tomou o ar e seguiu em frente, por entre os arbustos e galhos. Cruzou o rio sem medo, ainda que a água fria queimasse sua pele. Certificou-se uma ou duas vezes que sua adaga permanecia entre as camadas de tecido do vestido e seguiu seu caminho. Eles pagariam. Ela os faria pagar.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-8609313926048000612015-06-07T11:57:00.000-07:002015-06-07T12:00:31.371-07:00O gosto amargo da vitória<div style="text-align: justify;">
Olhou ao seu redor. Cadáveres jaziam amontoados pelo chão, o aroma de sangue misturava-se ao da pólvora. Qualquer um que por ali passasse, reconheceria o cenário de uma guerra, de uma batalha de vida e morte - o cenário de um câncer que se instala e se alastra pela sociedade por séculos. E ali estava ele, examinando o que outrora fora um campo de batalha feroz, onde homens de diferentes idades, terras natais e famílias deram seu suor, sangue e vida em busca da vitória. Aos olhos de outrem ele era o vitorioso, segurando imponente a bandeira de sua pátria, carregando nos ombros a honra e a força de seus companheiros.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas se pudesse olhar um espelho, o que veria seria apenas a pobre realidade: um homem ferido, que permanecera de pé às custas das pernas de seus semelhantes, amigos, parentes, vizinhos, compatriotas. Venceram. Acabava ali, naquele instante, um pesadelo dantes tido como interminável. Às custas das vidas de pais, irmãos, amantes, jovens que teriam em frente toda uma vida a ser vivida.</div>
<div style="text-align: justify;">
A vitória trazia-lhe um ilustre sabor amargo...</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-92057964850719791252015-06-03T14:13:00.001-07:002015-06-03T14:13:46.797-07:00Desamparos<div style="text-align: justify;">
Há 10 anos atrás minha vida foi virada de ponta cabeça e do avesso, e como a criança que eu era, nada pude fazer além de ser levada pela correnteza dos acontecimentos. Já com a pouca idade eu aprendi a minha primeira lição da "vida lá fora": não dependa dos outros, porque eles não vão estar lá pra você. Afinal, no fim das contas nós nascemos e morremos sozinhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje, 10 anos mais tarde, num dia qualquer, sem nenhum acontecimento especial, eu me dei conta do total abandono no qual eu tenho vivido. Eu não sou independente porque sou desapegada, sou independente porque nunca tive de quem depender. Não sou madura porque tive uma grande experiência de vida, e sim porque não me permitiram ser criança. Eu sou uma sobrevivente. Um exemplo de pessoa que contornou sozinha todos os seus obstáculos, inclusive aqueles que deveriam servir como porto seguro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sinto-me desolada. O meu porto seguro é o obstáculo do qual eu tive de desviar todos estes anos. O objeto de amor e conforto é a parede com a qual eu precisei - e ainda preciso - bater de frente pra seguir o meu caminho. Não me surpreende que eu me sinta tão abandonada. No fundo, a única pessoa com a qual eu posso verdadeiramente contar sou eu mesma - e me pergunto se eu não me abandonaria também, se tivesse a oportunidade. Não dependemos de ninguém, porque ninguém estará ali para nós. </div>
<div style="text-align: justify;">
Você nasce sozinho e morre sozinho.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-15160300231985737802015-04-23T19:11:00.000-07:002015-04-23T19:15:03.463-07:00Transitando<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgweXCWkhzPUk4RX2Uo4_tPf0i5KXGx6fcxQjPn032bo0xchNLqAFaVMdUBuf23GD5VYv0VtIynQftwJw58EbHTRaNUEk3VovltKbZLEnWZgmdMrT5Jj_Y9t8FBzMi8Rf1-kXh6Syg0dRQ/s1600/saysomething.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgweXCWkhzPUk4RX2Uo4_tPf0i5KXGx6fcxQjPn032bo0xchNLqAFaVMdUBuf23GD5VYv0VtIynQftwJw58EbHTRaNUEk3VovltKbZLEnWZgmdMrT5Jj_Y9t8FBzMi8Rf1-kXh6Syg0dRQ/s1600/saysomething.png" height="125" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nós costumávamos jogar conversa fora a essa hora. Nos divertíamos falando de qualquer coisa - fossem as pessoas, os livros, o dia-a-dia, as piadinhas mais bobas possíveis. Sua presença em minha vida era constante, e parecia-me que sempre seria assim. Nós fazíamos promessas juntos, planos para o nosso futuro, brincávamos sobre como seria nossa relação em dez anos, e isso parecia muito sólido pra mim. Àquela altura, você parecia certo em minha vida, e ali estaria por toda a eternidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Pensando nisso agora, eu me sinto tola. Claro que eu notei que já não vínhamos nos falando com frequência, mas pensei: "faz parte da vida". Nosso dia-a-dia era sempre uma correria, você por aí, eu por aqui, e eu não seria mimada ao ponto de achar isso um problema. Éramos adultos agora, tínhamos responsabilidades e obrigações com as quais cumprir. Ainda assim, eu gostava de pensar que você estaria sempre ali. Distante, mas ali, em algum lugar para o qual eu pudesse correr quando precisasse.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um dia, eu percebi que você já não estava mais em lugar algum. E eu não fazia ideia de para onde tinha ido. Mais do que isso, eu sequer tinha notado a sua partida. Não chorei sua ausência. Não percebi sua falta. Não liguei. </div>
<div style="text-align: justify;">
As pessoas são assim, elas vêm e vão. Às vezes é doloroso, às vezes não.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-6409921548226405422015-04-01T14:27:00.003-07:002015-04-01T14:28:35.048-07:00Pensamentos Auto-destrutivos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://pure-poison89.deviantart.com/" target="_blank"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiBog10fpIujEWcWP3Bs_gtR-n8m5t55khHJF4rlgngTk-wvgwKBNSr8J3caEObi2r07BKYmWtMbEDj2bxMlae5Pc9w8NzAua9IXh2Xfy2cJnxbkBbtaZfuuJi25DIWzSL01B9i8UN2bU/s1600/oi.gif" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Às vezes eu quero morrer. Pular da ponte que não existe nessa cidade, jogar uma cartela de diazepan num copo de vodka, cortar os pulsos ao som de Back to Black. Dirigir a 300 por hora em direção ao abismo, dar um tiro na boca, caminhar sem rumo pela estrada enquanto meu corpo aguentar. Às vezes eu tenho essa sensação de que o mundo é demais pra mim, que não existe saída, e fico querendo sumir sem deixar rastros. Se for deixar algo, que fiquem as memórias então.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas este é só mais um dia ruim, que começou, mas não acabou bem. É só mais um momento de recaída, de uma reação em cadeia, de uma relação de coisas que trouxeram um produto ruim. Outros dias virão. A vida é mais do que pedras no caminho.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-91452035008799880112015-02-27T13:03:00.001-08:002015-02-27T13:03:49.106-08:00Sonhando<div style="text-align: justify;">
Tudo teria acontecido conforme o planejado se não o tivesse conhecido. Foram a semanas do "grande dia de sua vida" que se encontraram, no condomínio onde seus pais ainda moravam, e de alguma forma aquilo mudou totalmente o rumo das coisas. Céus, o casamento já estava marcado a essa altura.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ele era a pessoa que havia esperado a vida inteira. Aquele com quem queria passar o resto dos seus dias, acordar cedo e sentir seu mau-hálito matinal, mandá-lo escovar os dentes e ter a certeza de que o amava mesmo assim, com o cabelo desgranhado. Era aquela personalidade fantástica, aquele jeito apaixonante, aquele ser por inteiro que precisava ter ao seu lado, e tinha a sensação de que nada no mundo seria o mesmo depois dele. Mas não era esse o jovem com quem dividia uma aliança.</div>
<div style="text-align: justify;">
O casamento a essa altura estava pago, para acontecer em questão de dias dali, e pela primeira vez ela se perguntou porquê. Meu Deus, como as coisas alcançaram esse nível? Como ela havia se permitido casar com alguém que não amava, com quem não queria dividir nada - e por contra própria?! Um rapaz respeitável, claro, jovem como ela, bonito, de uma família que ela nem desgostava tanto assim, e que ela nitidamente não amava o suficiente para se entregar "para todo o sempre" como estava prestes a fazer.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ninguém estava ao seu lado. E agora, olhando a enorme saia de tule do vestido em seu corpo - que ela mal acreditava ter um dia escolhido -, o cabelo preso de forma desgranhada e as bijuterias baratas e infantis que estava usando, ela não sabia o que estava fazendo ali. Seu celular fora confiscado - porque em algum momento sua farsa foi descoberta por seus pais - e ela estava ali, sentada numa espécie de varanda, já dentro do salão, esperando os convidados chegarem. Vivendo novamente cada momento em sua memória, sentindo crescer em seu peito o desespero.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ela ia se casar. Não amava seu noivo. E o homem de sua vida sequer tinha sido convidado.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mexeu em seu rabo de cavalo torto, nitidamente mau-humorada, deu respostas mal-educadas a seus familiares, odiou seu vestido, olhou novamente para os anéis de acrílico ridículos que estava usando. Acabaria logo, não é? Não havia mais nada a se fazer a essa altura. Passou pela porta para a parte mais interna e extensa do salão e viu as cadeiras ainda em cima das mesas, os convidados - de forma bizarra - arrumando o ambiente. Aquilo era ridículo. Tudo era ridículo - o cenário, a situação, o casamento que ela estava pagando praticamente sozinha, para ser consumado com um homem que ela sequer amava de verdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Olhou para sua mãe. Ela respondia mensagens em seu celular, e teve um <i>glimpse</i> de verdade, como se entrasse num banho de água fria. Sua mãe a olhou. A mulher que a amava mais do que tudo no mundo, que a entenderia melhor do que ninguém, e que com certeza era capaz de ver o que se passava na mente de sua filha, dada a expressão que tomou seu rosto. Mas que durou meio segundo. Sua filha. Aquela que criara e amara por toda uma vida, a noiva mais absurdamente mal-arrumada de todos os tempos, ali, prestes a entrar num salão bagunçado, a <i>espera</i> de seu noivo egocêntrico e sua família igualmente egocêntrica. Sua filha, que estava prestes a destruir os sonhos que ela mesma criara, baseada nos romances que lera durante a vida toda. Que compartilhou com ela. A filha que ela ensinou a amar.</div>
<div style="text-align: justify;">
E foi nesse momento que ela sentiu o amor a envolver, ali mesmo, entre os familiares cujas falas se cruzavam umas com as outras, quando sua mãe lhe sorriu e estendeu o celular. Quando ela lhe deu permissão para fazer exatamente aquilo que desejava, que ansiava, que precisava. Quando ela leu em seu olhar o "vai, filha. Vai ser feliz".</div>
<div style="text-align: justify;">
E ela foi.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não viu ao certo quando o vestido ridículo virou a calça jeans e a camiseta azul marinho, nem quando chegou ali no prédio velho e mal localizado onde sabia que ele morava. Olhava o celular e a conversa entre sua mãe e o irmão mais velho dele, e o "você sabe que ela não pode" que ela não havia terminado de escrever. Não se importou em encontrar o irmão conversando com as colegas da faculdade - ou eram do trabalho? - conversando na porta, e entrou no apartamento como se já pertencesse àquele lugar. Escondeu-se na cozinha, longe das janelas, chorando compulsivamente enquanto o ouvia despedir-se do pequeno grupo de meninas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ele não estava em casa, aquele que queria ver. Mas pouco importava. Seu irmão perguntava a ela o que estava fazendo ali, e foi preciso conter os soluços para explicar, enquanto ele corria para encontrá-lo. Céus.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ela acabara de fugir do próprio casamento e já havia mobilizado as pessoas em prol de sua causa. Sentou-se na mesa da cozinha - ridiculamente pequena -, encostada na geladeira - que era a única coisa que a mantinha escondida. Olhou as paredes azuis e a cortina de banheiro que separava o cômodo do corredor. Estava louca. Estava chorando feito louca. Estava fazendo uma loucura. Estava se escondendo atrás de uma porra de geladeira, fugindo de um casamento que ela mesma havia pedido, organizado e pagado, e dependendo do irmão mais velho do cara que ela acreditava ser o homem de sua vida. E ia depender mais tarde do irmão mais novo dele, que estava se preparando para sair de casa quando a encontrou ali e sentou-se ao seu lado.</div>
<div style="text-align: justify;">
Era agora uma sem nome, uma indigente, uma fugitiva. Mas não se importava mais. Agora, nesse enredo louco e pouco controlado - totalmente oposto à vida que levava até então -, estava seguindo seu coração e perseguindo a felicidade que achava merecer, e iria agarrar-se a essa possibilidade com todas as forças, por mais louco que parecesse.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
----------</div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;">Baseado no sonho que acabei de ter, e que partiu e colou meu coração enquanto eu dormia.</span></i></div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-25627651373907373162015-01-11T15:27:00.004-08:002015-01-11T15:28:54.163-08:00Reflexões em dias de chuva<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjS90TwP8Td5ohRY8m5-TZQcLO_kKfSer2XKQwg4NhUmGUDizx2hVDWjFP0uhI-W8jt-6SQKiGmPFaJpdlC_p5Cj-8a0qZtOWH6Ekjjr8l3jMfsM9WAEs0ak-8u16mtnlCh-FpgDBNUKnk/s1600/window.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjS90TwP8Td5ohRY8m5-TZQcLO_kKfSer2XKQwg4NhUmGUDizx2hVDWjFP0uhI-W8jt-6SQKiGmPFaJpdlC_p5Cj-8a0qZtOWH6Ekjjr8l3jMfsM9WAEs0ak-8u16mtnlCh-FpgDBNUKnk/s1600/window.jpg" height="320" width="228" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Se eu conseguisse controlar essas coisas todas, que eu penso e sinto, a própria vida seria mais fácil, concluí. Sentada em minha poltrona, do alto de minha janela eu podia ver as pessoas, que andavam de um lado para o outro sem parecer se importar com a chuva que caía pesadamente sobre suas cabeças, molhando as solas de seus sapatos. Da minha janela, eu via a cidade como se fosse um outro mundo, algo totalmente fora do meu alcance. A fumaça que saía da minha caneca nada tinha a ver com a fumaça que saía dos carros ao cruzar as ruas; as gotas que caíam dos meus cabelos - ainda úmidos do banho que havia tomado a pouco - em nada pareciam as gotas da chuva que molhava minha janela; essa breve melancolia que eu sentia sequer se comparava ao tédio da grande cidade e das pessoas que a ocupavam.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando eu via o mundo da minha janela, eu o via por um outro ponto de vista. Não sentia qualquer identificação com aquelas formiguinhas, tão centradas, capazes de andar de um lado para o outro ignorando a chuva em suas cabeças e seus sapatos molhados. Obviamente, eu sabia que era uma delas na maior parte do tempo - eu não era uma hipócrita, apesar de tudo. Essa ideia, de fato, me incomodava. Existia, na cidade, alguém que, do alto de sua janela, me observava e me via como parte de um mundo estranho, ao qual ele não pertencia?</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi então que concluí: o que me incomodava não era o mundo estranho - ou as formiguinhas, ou a chuva, ou tudo aquilo que fazia parte dele. O que me incomodava era o paradoxo: fazer parte dele e abominá-lo, tudo com a mesma intensidade.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
--------------------------------------</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;">Escrito em algum momento ao fim de 2012...</span></i></div>
</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-56462899937183879372014-09-23T18:06:00.001-07:002014-09-23T18:06:22.499-07:00Sobre mim mesma<div style="text-align: justify;">
Há tanto, tanto ódio fincado neste peito que às vezes me pergunto como pode caber dentro de mim. Só queria que fosse embora, fosse embora...</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-42881694640782021042014-06-18T18:06:00.001-07:002015-01-30T16:18:51.241-08:00Liberdade<div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHb4odOiaTr4v5MvgmTmrtsdmdDUk7xiCsntUlYBBpuVsNlP9yxLHy19xDAZlU99xGxCTZlvSavqZ5ua2pfmt_oIxao1XXHOMauMImE28hSSspZBoGU_2HwwVHBS4YjzR4AOsU200OKOg/s1600/caged.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHb4odOiaTr4v5MvgmTmrtsdmdDUk7xiCsntUlYBBpuVsNlP9yxLHy19xDAZlU99xGxCTZlvSavqZ5ua2pfmt_oIxao1XXHOMauMImE28hSSspZBoGU_2HwwVHBS4YjzR4AOsU200OKOg/s1600/caged.png" /></a></div>
Olhava-o deitado no chão, numa posição nitidamente desconfortável, murmurando algo incompreensível. Delirava sob o efeito de remédios - que não deveria ter tomado, mas era capaz de qualquer coisa em nome de sua fantasia de auto-destruição. Sentada em sua cadeira, num canto escuro do quarto, ela observava-o sem silêncio, dia a dia, semana a semana, mês a mês. Já não contava mais o tempo, pois ele se arrastava de forma duvidosa. Temia que, se o contasse, saberia com qual frequência sua sanidade a abandonava.</div>
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Os olhos inexpressivos pareciam fitar algum ponto morto do assoalho, tal qual uma marionete sem cordas. Seria facilmente confundida com uma, não fosse o leve, quase imperceptível movimento de seu peito ao respirar. De súbito, ouviu um ruído, e sua cabeça voltou-se lentamente para o corpo estirado no assoalho. Ele murmurava algo sobre estar em seu limite, ou algo sobre morte, mas os olhos voltaram-se rapidamente para algum outro ponto qualquer do cômodo. Ouviu o som de algum pássaro, e voltou-se para a grande janela, observando o céu estrelado. Não precisou procurar muito pelo animal, pousado no galho de uma árvore, como se observasse o luar. Os olhos, até então inertes, brilharam.</div>
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Queria ser livre como ele. Queria voar entre as nuvens, sentir o vento no rosto e, acima de tudo, viver. Sentir a grama sobre os pés, sentir o perfume das flores, sentir o sabor a água límpida do rio em sua língua. Queria ser livre. Queria sentir a vida pulsando em suas veias mais uma vez.</div>
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Como se repentinamente possuída por uma alma, levantou-se da cadeira. As pernas moviam-se de forma lenta, mas sem tropeços. Caminhou vagarosamente, a pequenos passos, até a parede à sua frente, pousando as mãos frias sobre a vidraçaria - os olhos fixos no pássaro. Sem que se desse conta, os dedos finos deslizaram pela madeira escura e abriram o trinco, permitindo que o ar da noite entrasse numa doce brisa. Houveram ruídos de um outro corpo que se levantava, mas estes não foram capazes de alcançar-lhe os ouvidos. Ela debruçou-se sob o parapeito e, envolta da magia do luar, pôs-se de pé sobre o mesmo. Ouviu o animal cantar novamente.</div>
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Uma voz fez-se ouvir-se atrás de si, e voltou-se rapidamente - num relâmpago de realidade - para o homem ali, de pé, observando-a. Num único segundo pôde ver o homem, o quarto, a decoração rústica, as noites insones sobre o travesseiro, as lágrimas sobre o assoalho escuro, a jaula da qual podia ver a vida perdendo-se ao lado de fora. O corpo virou-se, e viu, mais uma vez, o céu. O pássaro. O Luar. O cheiro da grama molhada, a carícia do vento na pele, o gosto da liberdade na boca.</div>
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Livre, enfim.</div>
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Os braços abriram-se e, na batida de de um coração, ela voou. Soberana de sua essência, voou para o mundo, para a vida, para o descanso de suas feridas.</div>
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Livre, enfim.</div>
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<i><span style="color: #990000;">Maybe tonight, we'll fly so far away</span></i></div>
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<i><span style="color: #990000;">We'll be lost before the dawn</span></i></div>
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<span font-size:="" style="font-size: xx-small;" xx-small="">Before the Dawn, Evanescence</span></div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3474344436384588954.post-73163488492454505732014-05-21T10:17:00.001-07:002014-05-21T10:17:16.342-07:00Socorro<div style="text-align: justify;">
Eu preciso de alguém pra conversar, porque eu não consigo mais lidar com isso sozinha. Eu 'tô ficando louca. Falta um passo pra eu cair desse precipício. Um passo só.</div>
<div style="text-align: justify;">
Muito pouco, se querem saber.</div>
Shanahttp://www.blogger.com/profile/00379907048151310254noreply@blogger.com1