11 de junho de 2012

Sorriso falso

Assim que me viu, ela sorriu. Correu em minha direção e me abraçou forte, seus olhos sorriam. Perguntou-me como eu estava e passou a falar sobre as coisas banais de seu dia-a-dia, gesticulando alegremente. Nosso encontro parecia ser-lhe importante, e então forjei meu melhor sorriso - ou o que deveria ser um.
Vez ou outra, fazia questão de dizer como eu lhe era importante, e como nossa amizade era-lhe especial. Falava sobre nada em particular, sem menção de parar para pensar realmente em quais palavras escolher - coisa que já havia tempo eu não fazia. As conversas calculadas, os risos forçados, a amizade falsa e sem valor algum. Perdi algum tempo observando-a enquanto comprava sua bebida em um quiosque qualquer, e murmurava algo sobre uma loja que precisava checar. Os cabelos bagunçados, as cores contrastantes de roupa, a irregularidade por todo o figurino.
Uma pessoa irregular.
Não pude deixar de me perguntar se ela realmente não havia notado a que ponto estávamos chegando, ou se fazia um esforço além do comum para ignorar o fato. A amizade bonita que ela reforçava a todo instante me parecia uma memória tão utópica, tão distante, tão falsa... E ainda assim, parecia-lhe uma verdade tão absoluta, irredutível. Talvez o problema fosse eu e o gosto amargo dos meus copos de café pela manhã. Talvez o problema fossem as jujubas que ela ainda comia o tempo inteiro. Eu quase podia nos ver, caminhando juntas num passado não tão distante. Não seguimos rumos diferentes. Não realmente. Será que eu deveria ter lhe puxado pela mão, quando você decidiu parar no meio da estrada?
Pude ver nosso reflexo na vitrine de uma loja qualquer. Eu e minha feição serena, minhas roupas sérias e meu ar amargo de adulta, e você com suas roupas coloridas e irradiante infantilidade. Você, a criança que nunca viu o mundo de frente, que nunca se sustentou sobre os próprios pés.
Suspirei.
Encarei meu reflexo e o repreendi mentalmente. O sorriso dele era falso demais.


3 de junho de 2012

Basta!





Não. Eu digo não a essa sua mão estendida, a esse seu sorriso meigo e a essas suas palavras pensadas que não passam de meias-verdades - se não forem mentiras completas. Eu não aceito essa sua proposta meia-boca e essa sua conversa agradável, e eu não vou engolir essa sua cara de inocente, porque ambos sabemos que você não é.
Não! Eu digo não a essa sua amizade fajuta e a esses seus abraços sem amor, e eu me recuso a olhar nos olhos de alguém que não têm nada além de uma casca bonita! Eu não aceito esses seus convites mentirosos e esse seu sotaque elegante não vai me conquistar!
Não me venha com esse sorriso maroto... Não me venha com essas promessas quebradiças... Não me venha com esse coração partido esperando que eu o conserte. O que você espera de mim já não existe, e a pessoa que te diz isso você já não conhece. A nossa história não passa de história, e você bem sabe o porquê. Não tente ser meu amigo de novo, você não merece mais esse posto. Você não merece mais nada de mim.