31 de outubro de 2013

Encanto

É tão difícil saber que não posso te ter... Tão assim, sem sentido, essa coisa tão linda que existe entre nós. Quanto mais perto de ti, mais longe da realidade, mais ilusões a alimentar meu pequeno conto de fadas, onde juntos estamos, eu e você. Cada minuto que se passa do meu dia tem um pouco de você e, ainda assim, você nunca está presente.
Por quê tem que ser assim, justo você?
Se tem tantas gotas no oceano, porque só uma me parece brilhar tão intensamente? Se há tantos grãos de areia, porque só um me é especial? O que há em você que te faz assim, tão brilhante, tão amado, tão você?
Com tantas pessoas nesse mundo, precisava ser você, justamente.
Cada detalhe, cada pequena coisa me lembra você. Uma música, um doce, um momento, uma palavra, um filme, um comentário descontraído... Não existe mais um eu, se não há um você. Como dois que se completam e tornam-se um, somos assim, tão nós, que o que resta de mim já não tem mais sentido se não há uma parte de ti pra completar. Depois de você, fiquei assim, uma existência sem sentido.
Encantei-me perdidamente.
Você, minha doce salvação, foi, no fim, o meu pecado.

(18 de agosto, 2011)

30 de outubro de 2013

Transgressões de Amor


O líquido quente alastrava-se pelo chão, iluminado fracamente pela luz vinda da noite. O vento aquietava-se por um momento, ouvindo a respiração de ambos dançar debilmente pelo salão. O silêncio era quebrado apenas por um ou outro soluço que escapava dos lábios trêmulos, antes corados, que pouco a pouco perdiam a cor. A calidez abandonava lentamente a pele alva, e os dedos finos - que antes lhe trilharam caminhos ardentes pelo corpo - jaziam inertes no piso frio, tal qual o corpo cuja vida lentamente se esvaía.
No silêncio, dois corações sangravam: um, de dor, o outro, de amor. Doía-lhe profundamente no peito vê-la assim, imóvel, sem vida, com seus os olhos deixando para trás o brilho estrelado de outrora. Os lábios tremeram levemente ao deixar escapar, num fio de voz, seu nome.
Aproximou-se. Com a mão livre tocou-lhe o rosto delicadamente, tirando dali algumas madeixas sedosas que lhe atrapalhavam a visão. Notou uma lágrima desprender-se dos olhos marejados, e beijou-lhe a face, murmurando palavras baixas. "Não chore. Não agora", disse-lhe docemente, "Logo mais a dor se vai".
Um soluço ecoou pelo salão, enquanto espasmos involuntários espalhavam-se pelo corpo pequeno e delicado. Os dedos frágeis desprendiam-se do tecido úmido e quente, e escorregavam pelo peito, manchando a lateral do vestido claro. Ele tomou-lhe a mão fria entre as suas, depositando-lhe um beijo quente, embora o calor efêmero já não lhe fizesse falta. Os olhos pesavam, os pulmões falhavam e, lentamente, a dor foi tornando-se um leve formigamento, que mal se fazia sentir. Um último suspiro escapava da boca feminina, enquanto ele apertava o cano frio do revolver em sua mão.
Abaixou-se sobre ela, depositando-lhe um beijo delicado sobre os lábios frios. Não se arrependia. Sabia que ela lhe entendia, que lhe perdoaria, que havia feito o que era certo - mesmo os deuses perdoariam um coração assim, tão doente. Fizera o que fizera por estimá-la em demasia, por adorá-la de forma perturbada e, sobretudo, por amá-la. 
Fizera por amor.

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Três tiros irromperam a noite surda
Pr´um corpo de calor que se extinguiu
Me deu três beijos úmidos de lágrima
Selou meus olhos como um arrepio
Crime Passional, Filipe Catto

29 de outubro de 2013

Desfecho.

O doce toque dos seus dedos em minha pele, eu não vou mais sentir. O calor da sua respiração em meu rosto, eu não vou mais sentir. A sua voz, tão adorada, a tagarelar incansavelmente sobre nada em particular, eu não vou mais ouvir. As suas expressões, infinitas, eu não vou mais ver.
Ah, tanta coisa que não vai mais acontecer entre nós...
Eu não posso mais te cumprimentar quando passar por você, posso? Tampouco te ligar a qualquer hora da noite ou do dia, só pra te dizer que quero ouvir sua voz. Não posso mais fazer parte do mundo onde você vive, e nosso passado vai ser só passado.
Não era pra ser, eu e você. O que tínhamos era muito bom pra durar pra sempre - se é que "pra sempre", de fato, existe. E, no entanto, é tão triste te ver indo embora, sem poder correr até você e te pedir pra ficar.
Quem sabe, num futuro bem distante, numa outra vida ou mesmo em um sonho qualquer, eu possa estar ao seu lado novamente. Quem sabe eu possa te sentir, te ouvir e te ver quando tiver vontade, ou até mesmo te amar a distância, sem compromissos. Será que, mesmo agora, eu ainda posso te amar?
No fundo, não. Entre eu e você existe muita, muita coisa - só não existe um "nós".

(19 de junho, 2011)

28 de outubro de 2013

Epitáfio.

Eis aqui o nosso fim. Sem palavras bonitas, sem honras, sem eufemismos. Já não há mais nada que faça valer nossa guerra. O nosso “para sempre” perdeu-se na imensidão da eternidade, e não nos restou nada além das cinzas da paixão ardente que um dia nos uniu.
Lamento que tenhamos chegado a este ponto, onde dois copos de uísque já não eram o suficiente para afogarmos nossa dor. Já sabíamos, há muito tempo, que caminhávamos para isso. Pouco a pouco, preparamos a sepultura do nosso amor. Cúmplices, executamos o seu assassinato, sem piedade, sem hesitar por nem um segundo.
Não há mais o que dizer.
Nossos beijos tinham gosto de cigarro, nossos abraços eram frios tal qual é o toque de um cadáver. O que tinha entre nós morreu: foi velado, sepultado e esquecido a sete palmos do chão.
Todas as cartas estão na mesa.
Estamos sem saída, e não temos mais para onde voltar. Mesmo os momentos que compartilhamos foram, pouco a pouco, perdendo-se entre as palavras duras e amargas. Nosso amor, que começou tão simples e inocente, tornou-se o veneno que nos matou lentamente.
Não há mais nada aqui para nós. Já não há mais esperanças, alternativas... Foi belo, trágico e triste, mas, enfim, alcançamos nosso fim. No entanto, não haverá palavras bonitas e nem “felizes para sempre” na última página. Quando fecharem-se as cortinas não haverão aplausos. O silêncio será o nosso ponto final.
Não há mais um “nós”.
Talvez um dia, em outra vida, num outro tempo, possamos nos encontrar, e poderei amar-te da forma que você merece. Até lá, este será um adeus.
Um brinde, ao fim de um grande amor.

(24 de agosto, 2011)

27 de outubro de 2013

Inconstante


Eu quero te esquecer. Quero mesmo. Quero que sua imagem desapareça da minha mente, sem deixar vestígios, e que seu rosto torne-se uma imagem desfocada em minha memória, antes que meu pequeno amontoado de sentimentos torne-se um suntuoso castelo, apenas para desmoronar.
Eu não quero recolher as ruínas. Eu não suportaria.
Não me leve a mal, mas não há meios de transformar isso - seja lá o que for - em algo durável.
Me iludi. Me encantei com seu adorável brilho de estrela, e me esqueci que não posso te tocar. Você, meu astro brilhante, ofuscou minha visão. Minha luz se apagou diante da sua magnificência. Mas o sonho acaba quando acordamos, e a realidade não tem estrelas nem astros brilhantes - nosso céu é escuro e encoberto, sem coisas bonitas ou reconfortantes. Você é um sonho distante. Assim como Ícaro, eu quis voar alto e alcançar o sol, mas foi justamente o seu calor a derreter minhas asas.
Melhor desistir. Melhor esquecer a me ferir, te abandonar a me perder. Você não é pra mim. Ah, que inocência a minha em pensar que eu seria diferente. Eu sequer fui parte do seu presente para me tornar passado - será que você, ao menos, notou minha presença?
Prefiro pensar que não. Que o seu olhar divertido nunca encontrou o meu, que nossa conversa não saiu do "bom dia" e do "até mais". Prefiro pensar que não houve história no nosso livro - assim, não preciso escrever um fim, já que não houve começo. Prefiro, na minha simploriedade, deixar de gostar de você. Me deixe, por favor, te esquecer, e me permita voltar ao meu mundo cinza e sem-graça, onde não existia sua aura para iluminar os meus dias.
Que você se torne uma inexplicável nostalgia.
Me liberte. Tenha piedade deste coração inconstante, que pede para te esquecer enquanto chora ao separar-se de ti. Me liberte, ou me iluda mais uma vez. Venha até mim e me convença a te amar.
Ou me dê apenas um sorriso, e me deixe partir.

(2 de outburo, 2011)

3 de outubro de 2013

Nothing left

Não haviam mais flores, ou encontros no meio do dia. Não haviam mais bilhetes, presentes ou recados. Não haviam mais palavras doces, ou amargas, ou palavras quaisquer. Não haviam mais ligações, nem cartas ou mesmo emails bobos. Não haviam mais beijos. Não haviam mais abraços. Não havia mais amor...
De súbito, não havia mais nada.