7 de junho de 2015

O gosto amargo da vitória

Olhou ao seu redor. Cadáveres jaziam amontoados pelo chão, o aroma de sangue misturava-se ao da pólvora. Qualquer um que por ali passasse, reconheceria o cenário de uma guerra, de uma batalha de vida e morte - o cenário de um câncer que se instala e se alastra pela sociedade por séculos. E ali estava ele, examinando o que outrora fora um campo de batalha feroz, onde homens de diferentes idades, terras natais e famílias deram seu suor, sangue e vida em busca da vitória. Aos olhos de outrem ele era o vitorioso, segurando imponente a bandeira de sua pátria, carregando nos ombros a honra e a força de seus companheiros.
Mas se pudesse olhar um espelho, o que veria seria apenas a pobre realidade: um homem ferido, que permanecera de pé às custas das pernas de seus semelhantes, amigos, parentes, vizinhos, compatriotas. Venceram. Acabava ali, naquele instante, um pesadelo dantes tido como interminável. Às custas das vidas de pais, irmãos, amantes, jovens que teriam em frente toda uma vida a ser vivida.
A vitória trazia-lhe um ilustre sabor amargo...

3 de junho de 2015

Desamparos

Há 10 anos atrás minha vida foi virada de ponta cabeça e do avesso, e como a criança que eu era, nada pude fazer além de ser levada pela correnteza dos acontecimentos. Já com a pouca idade eu aprendi a minha primeira lição da "vida lá fora": não dependa dos outros, porque eles não vão estar lá pra você. Afinal, no fim das contas nós nascemos e morremos sozinhos.
Hoje, 10 anos mais tarde, num dia qualquer, sem nenhum acontecimento especial, eu me dei conta do total abandono no qual eu tenho vivido. Eu não sou independente porque sou desapegada, sou independente porque nunca tive de quem depender. Não sou madura porque tive uma grande experiência de vida, e sim porque não me permitiram ser criança. Eu sou uma sobrevivente. Um exemplo de pessoa que contornou sozinha todos os seus obstáculos, inclusive aqueles que deveriam servir como porto seguro.
Sinto-me desolada. O meu porto seguro é o obstáculo do qual eu tive de desviar todos estes anos. O objeto de amor e conforto é a parede com a qual eu precisei - e ainda preciso - bater de frente pra seguir o meu caminho. Não me surpreende que eu me sinta tão abandonada. No fundo, a única pessoa com a qual eu posso verdadeiramente contar sou eu mesma - e me pergunto se eu não me abandonaria também, se tivesse a oportunidade. Não dependemos de ninguém, porque ninguém estará ali para nós. 
Você nasce sozinho e morre sozinho.