29 de agosto de 2012

Boa Noite

Nos últimos tempos, nossa relação parece ter-se deteriorado. Ela sequer me dá boa noite - se me vê chegar do trabalho, é porque perdi minhas chaves, e alguém precisa abrir a porta para mim. Nossa relação começou de uma forma estranha, admito, já que ela era a amiga de uma amiga, e estava me fazendo apenas um favor. Se dá pra chamar o que tivemos de "caso", foi tão rápido que não poderia ter nenhuma outra conotação além de "casual". Começou e terminou com tamanha velocidade que sequer me dei conta do que aconteceu.
Não sei dizer quando as coisas ficaram assim. Não sou um homem de poucas palavras, muito pelo contrário, sou tão comunicativo que chego a falar em excesso. Mas não sinto que exista uma abertura entre nós para falar sobre essas coisas, para de fato estabelecer um diálogo, ou mesmo perguntar: que diabos está acontecendo? Quer dizer, quem sou eu para perguntar alguma coisa a esta altura do campeonato...?
Durante a maior parte do tempo, ela me ignora. Assiste à sua novela das oito, cozinha somente o necessário para si mesma, lava somente as próprias roupas e, quando chego, não há nada além de uma taça cheirando a vinho em cima da mesa. Já não tenho mais vontade de sentar-me com ela ao sofá, e discutir algum assunto banal - ou ainda, puxar um assunto banal -, pois o desconforto é tamanho que me sinto invadindo seu espaço ao fazê-lo. Já deve ser muito ter de incomodá-la com minha falta de habilidade com as panelas e o cheiro de queimado daquilo que eu cozinho - sequer sei se posso chamar aquilo de comida, para ser bem sincero.
Eu me pergunto, seriamente, se minha presença aqui ainda é desejada. Se é indesejada. Se ela sequer dá conta da minha existência, ou se  faz de conta que não dá. Não sei se é apropriado ir embora, já que não me convidaram a sair, ou se devo continuar dividindo com ela o mesmo teto, já que não dividimos a mesma cama. Parecemos até um casal de divorciados, ainda que nunca tenhamos sido casados. Aliás, nunca houve nada entre nós, além de uma certa "troca de favores". Mas não consigo sair, simplesmente. Me sinto perfeitamente incomodado e habituado com a situação na qual nos envolvemos.
Não queria uma revolução, nem nada. Mas, quando ela vai dormir, muito apreciaria que, ao menos, me dissesse "Boa noite".

19 de agosto de 2012

Não será a última vez.

Cansei de te esperar. Cansei de dedicar minhas palavras a alguém como você. Cansei de me iludir repetidamente, construindo de novo e de novo a esperança de te ter comigo mais uma vez. Já pensei, senti e escrevi tanta coisa sobre você e sobre nós, que me surpreende o fato de ainda ter palavras o suficiente para isso.
Mas, mais do que isso: me surpreende estar fazendo tudo de novo.
Você sequer existe mais. Você desapareceu na neblina dos meus delírios mais enevoados - mesmo a sua voz, que um dia fora algo pelo quando ansiei tanto ouvir, já me é uma memória muito distante, a qual sequer tenho acesso. Na verdade, a sua simples existência me parece uma ilusão, e me pego constantemente perguntando a mim mesma o que fazer sobre isso: você mal existe e, ainda assim, você também não vai embora.
Me odeie. Me machuque, me faça desejar o pior do pior a você, mas não me deixe aqui, sozinha, com todas as minha dúvidas e incertezas. Não seja assim tão cruel.
A cada dia tenho mais certeza de que não vou conseguir te esquecer nunca, no fim das contas. Você sequer merece meia dúzia de palavras minhas, e eu poderia escrever uma obra completa em 12 volumes sobre você. Sobre o quanto eu te amo e o quanto eu te odeio. Ou, ao menos, o quanto eu deveria - ou ainda, gostaria - de te odiar. Sobre o quanto dói meu coração e como meu sorriso desaparece toda vez que algo ou alguém me faz lembrar de você, e de como você continua vivendo sua vida como se nada tivesse acontecido.
É tão injusto me fazer dizer essas coisas sobre você... Tão injusto que eu seja a única a sentir essa tempestade de sentimentos, e experimentar do mais profundo vazio. É indescritível essa sensação de te querer tão perto, enquanto ainda sinto o gosto amargo da traição em minha boca. Se eu pudesse ao menos ser honesta comigo mesma... Se eu pudesse ao menos te dizer todas essas coisas que eu nunca disse nem nunca vou dizer...
Eu queria poder dizer que essa é a última vez que gasto minhas palavras com você, que, no fundo, não as merece, mas seria uma mentira. O mundo nunca mais vai ser o mesmo depois de você, nem eu nunca mais vou ser a mesma depois de você, e isso me mata aos poucos a cada dia que passa. Ainda mais quando percebo que, a cada dia, eu pareço sentir mais e mais a sua falta.
Você não merece nada disso. E eu mereço muito mais do que você sempre me oferece. Ainda assim, estou completamente viciada nessa relação tão desigual, disposta a destruir meu coração por você. Disposta a praticamente qualquer coisa. Disposta a me entregar a esse delírio doentio, a esse amor sem limites nem escrúpulos. O que me dói é que eu seria qualquer coisa por você, menos eu mesma. E entre você e a minha essência, nós sabemos a qual devo escolher.
Talvez um dia você volte, e me diga que tudo não passou de um mal entendido, mas eu sei que você não vai voltar. Eu sei que eu não só estou cansada, mas que vou deixar de esperar. Você não vem. Ainda assim...
Eu nunca mais serei a mesma.

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So run, run, run...
And hate me if it feels good
I can't hear your screams anymore
You lied to me
But I'm older now
[...]
And you'll never hurt me again.
The Last Song I'm wasting on you.
Evanescence

8 de agosto de 2012

Conflito.

Existe uma insatisfação, uma raiva generalizada, cujo alvo parece indefinido. Uma palavra, uma atitude, um alguém diferente. Já não sei mais se as pessoas as quais essa raiva se dirige de fato a merecem, ou se são um “Bode expiatório” de minha inconstância. Não se pode definir. Não se pode compreender. Esta raiva existe, e isso é tudo o que há para se dizer.