11 de janeiro de 2015

Reflexões em dias de chuva

Se eu conseguisse controlar essas coisas todas, que eu penso e sinto, a própria vida seria mais fácil, concluí. Sentada em minha poltrona, do alto de minha janela eu podia ver as pessoas, que andavam de um lado para o outro sem parecer se importar com a chuva que caía pesadamente sobre suas cabeças, molhando as solas de seus sapatos. Da minha janela, eu via a cidade como se fosse um outro mundo, algo totalmente fora do meu alcance. A fumaça que saía da minha caneca nada tinha a ver com a fumaça que saía dos carros ao cruzar as ruas; as gotas que caíam dos meus cabelos - ainda úmidos do banho que havia tomado a pouco - em nada pareciam as gotas da chuva que molhava minha janela; essa breve melancolia que eu sentia sequer se comparava ao tédio da grande cidade e das pessoas que a ocupavam.
Quando eu via o mundo da minha janela, eu o via por um outro ponto de vista. Não sentia qualquer identificação com aquelas formiguinhas, tão centradas, capazes de andar de um lado para o outro ignorando a chuva em suas cabeças e seus sapatos molhados. Obviamente, eu sabia que era uma delas na maior parte do tempo - eu não era uma hipócrita, apesar de tudo. Essa ideia, de fato, me incomodava. Existia, na cidade, alguém que, do alto de sua janela, me observava e me via como parte de um mundo estranho, ao qual ele não pertencia?
Foi então que concluí: o que me incomodava não era o mundo estranho - ou as formiguinhas, ou a chuva, ou tudo aquilo que fazia parte dele. O que me incomodava era o paradoxo: fazer parte dele e abominá-lo, tudo com a mesma intensidade.

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Escrito em algum momento ao fim de 2012...