6 de novembro de 2012

O que resta de mim

Eu não sei quem sou. E, por isso, eu vivo nessa constante busca de mim. Me procuro nos mais distintos lugares, nos mais diversos olhares, e não sei bem ao certo dizer por onde já o fiz. Já tentei me encontrar nos outros, nas coisas, até em mim mesma - mas não há pistas em mim, e nem nos demais.
Cada palavra que escrevo sou eu, e cada texto que redijo é um pedaço de mim. Que se vai, ou que vem? Em algum lugar, eu perdi a capacidade de dizer. Nesse peito, onde bate um coração, não existe emoção, e nessa mente, onde pulsam os neurônios, já não há reflexão. Eu existo, eu respiro e eu tenho noção de minha presença - até mesmo as pessoas sabem de mim. Eu, no entanto, sou vazio. Ocupo lugar sem ocupar, procuro por mim sem encontrar, sinto as lágrimas que não consigo chorar e continuo, com ou sem esperança, a procurar por algo que reste de mim.
O que resta de mim? E, mais que isso: o que me impede de saber? Por que não posso me responder? Onde é que perdi minha essência? Eu me pergunto, com bastante frequência, até. Eu tenho noção da minha situação, eu sei um pouco de mim. Mas não há explicação para esse vazio, esse eco que existe nesse corpo, nessa mente, nesse peito - onde eu sei que bate um coração!
Eu não sei se o que ainda sinto é verdadeiramente meu, tampouco se o que penso me pertence. Olho pra mim e não me vejo, grito por mim e não me ouço e, entre todas essas paredes, não sei dizer se não encontro a saída ou se não a quero procurar. Já não sei nada de mim.
Eu não sei quem sou, embora viva nessa constande busca de mim. Eu sinto o sangue pulsar nessas veias e o ar entrar nesse pulmões, mas, dentro dessa casca, não há essência. O que sei de mim - dessa minha condição de existir - é que sou humana. Mas aquela essência, o que havia de mais humano em mim, a alma que me pertencia, já não está mais. Eu me perdi, e não consigo me encontrar. E essas lágrimas que eu sinto, mas não choro, esse luto que eu conheço, mas não sinto, são coisas que estão além do que essas mãos podem alcançar - e que, de uma forma ou de outra, existem - eu já não sinto mais.
Eu perdi a capacidade de sentir - e, agora, não posso sentir a mim mesma.
Até onde esse corpo suporta essa condição de "existir"?

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