29 de abril de 2012

Tudo passa.


     Às vezes, sem motivo nenhum, eu sinto saudades de casa. De saber o que acontece. De saber o que teve no almoço de domingo. De ficar sentada na mesa, dentro do meu mundo particular, mas com a certeza de que meus pais estavam no sofá e meu irmão ali na rua.
     Às vezes eu me dou conta de que estou a 7h de casa. De que existem 450km entre minha família e eu. De que eu não posso vê-los quando tiver vontade, e de que ainda tenho cinco anos pela frente nessa outra cidade, que não é onde eu nasci e não é onde quero estar.
     Às vezes a gente acaba deixando muita coisa pra trás, quando toma uma decisão. Realizar um sonho, que a esta altura não é mais só meu, tem lá as suas consequências, o seu preço. E estar disposto a pagar o preço não necessariamente quer dizer que farei isso de bom grado. Eu lutei muito pra estar aqui, e eu sei – e todos sabem, na verdade – que essa é a coisa certa a se fazer. O que me entristece é que a escolha certa é sempre a mais dolorosa, e não dá pra fugir disso.
     Às vezes me bate essa saudade. Logo, logo, passa. Tudo passa: a vida passa, os anos passam, a tristeza passa. É só essa sensação de que tudo está passando muito rápido que me incomoda.
     Mas deixa. Outros dias virão.

27 de abril de 2012

Escrever.


Eu não escrevo pra ninguém. Eu escrevo pra mim. Eu escrevo pra todos. Eu escrevo quando tenho vontade.
Eu escrevo, somente. Apenas pelo ato de escrever.
Escrevo quando estou triste, quando ouço música ou no meio das aulas de antropologia. Escrevo sem motivo, escrevo porque devo, escrevo porque gosto de escrever. Escrevo porque tenho um lápis em mãos. Escrevo em post-its, em paredes e em mim mesma. Porque sei. Porque alguém vai ler. Porque senti que devia escrever.
Escrevo sobre tudo, escrevo sobre nada, sobre pessoas, sobre sentimentos, sobre os sentimentos das pessoas. Escrevo em outras línguas, escrevo em outras formas, conto histórias e não conto nada. Faço à mão e digitado, bonito e desleixado. De tudo que é jeito.
Escrevo. Logo, existo.

4 de abril de 2012

Delírio



Tantas noite em claro esperando por ele. Tantos copos com cheiro de whisky sobre os móveis. Tantaz vezes a maquiagem borrada, destruída por esse choro frio e sem soluços. Ah, tantas pessoas indo e vindo pelas ruas, e ele nunca está entre elas. Ainda assim, espero por ele todas as noites. Pelo dia em que irá bater a minha porta e, recostado no batente, seu olhar encontrará o meu, e todas as palavras que não foram ditas vão estar ali, entre nós.
Já não tenho sonhos. Já não me importo com o que vou vestir pela manhã ou com o que vão pensar de mim quando chegar ao trabalho com essa cara de quem perdeu um grande amor. Já não me importa mais se ouço minha música favorita tocando em algum lugar enquanto caminho pelo asfalto entre prédios e fumaça, mas continuo ansiando pela sua voz, procurando-a onde quer que eu esteja.
Não vou mais ao cinema, nem vou até aquela locadora antiga para alugar meus filmes favoritos. Não leio mais os livros que ele me deu, porque já não tenho vontada de ler, e já não me interesso por gastronomia porque não há quem experimente minha criações. Não tenho mais vontade de fotografar o pôr-do-sol, porque não tenho quem divida comigo o momento, e não escrevo mais versos de amor porque não tenho para quem os recitar.
Meus dias são tão cinzas quanto aqueles olhos. No entanto, não há em meus dias a paixão ardente que havia nos olhos dele. Não há nas brisas que entram por minha janela e acariciam minha pele os seus suspiros quentes. Não há no sol que me acorda pela manhã o calor de seus braços.
Dele, já não há nada.
Não uso mais o casaco que ele me deu, mas durmo com aquela camisa de flanela porque ainda tem o seu cheiro. Durmo no sofá, porque não suporto o excesso de espaço em minha cama, e deixo a porta aberta, alimentando a infantil fantasia de que ele ainda irá voltar.
Ele se foi. Dele, já não há nada. Sua paixão, seus suspiros, seu calor, seu olhar. Ele se foi, e levou tudo de mim. Minha paixão, meus suspiros, meu calor, meu olhar, meu eu. Ele se foi, pra sempre, pra nunca mais voltar. Tudo o que me restou foram as garrafas de whisky e a maquiagem borrada.

3 de abril de 2012

No fundo,

Você sabe que algo está indo errado quando, mesmo depois de tudo, você ainda está esperando por ele.