27 de outubro de 2013

Inconstante


Eu quero te esquecer. Quero mesmo. Quero que sua imagem desapareça da minha mente, sem deixar vestígios, e que seu rosto torne-se uma imagem desfocada em minha memória, antes que meu pequeno amontoado de sentimentos torne-se um suntuoso castelo, apenas para desmoronar.
Eu não quero recolher as ruínas. Eu não suportaria.
Não me leve a mal, mas não há meios de transformar isso - seja lá o que for - em algo durável.
Me iludi. Me encantei com seu adorável brilho de estrela, e me esqueci que não posso te tocar. Você, meu astro brilhante, ofuscou minha visão. Minha luz se apagou diante da sua magnificência. Mas o sonho acaba quando acordamos, e a realidade não tem estrelas nem astros brilhantes - nosso céu é escuro e encoberto, sem coisas bonitas ou reconfortantes. Você é um sonho distante. Assim como Ícaro, eu quis voar alto e alcançar o sol, mas foi justamente o seu calor a derreter minhas asas.
Melhor desistir. Melhor esquecer a me ferir, te abandonar a me perder. Você não é pra mim. Ah, que inocência a minha em pensar que eu seria diferente. Eu sequer fui parte do seu presente para me tornar passado - será que você, ao menos, notou minha presença?
Prefiro pensar que não. Que o seu olhar divertido nunca encontrou o meu, que nossa conversa não saiu do "bom dia" e do "até mais". Prefiro pensar que não houve história no nosso livro - assim, não preciso escrever um fim, já que não houve começo. Prefiro, na minha simploriedade, deixar de gostar de você. Me deixe, por favor, te esquecer, e me permita voltar ao meu mundo cinza e sem-graça, onde não existia sua aura para iluminar os meus dias.
Que você se torne uma inexplicável nostalgia.
Me liberte. Tenha piedade deste coração inconstante, que pede para te esquecer enquanto chora ao separar-se de ti. Me liberte, ou me iluda mais uma vez. Venha até mim e me convença a te amar.
Ou me dê apenas um sorriso, e me deixe partir.

(2 de outburo, 2011)

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