5 de janeiro de 2013

Três.


Éramos três. Ali, sentados à mesa, vivíamos um impasse: eu olhava para você, você para ela e ela, por sua vez, olhava pela janela, pois o que buscava estava muito além do vidro embaçado. Eu sabia tudo sobre você; você, sabia tudo sobre ela; ela, por sua vez, não sabia nada sobre nós - ou era justamente o contrário: ela sabia tudo sobre nós, e seu desinteresse na verdade era sua forma de manter distância da nossa dança. Afinal, não se podem dançar três pessoas ao mesmo tempo.
Não importava a paixão em seu olhar. Eu não lhe tirava da cabeça, e me incomodava consideravelmente viver em constante guerra com a confusão desses meus sentimentos sem pé ou cabeça, nessa constante incerteza de gostar e desgostar de você. Da mesma forma, não importava o quão distante estava o olhar dela, você jamais desistiria do seu amor platônico. Ainda que ambos soubéssemos que ele nunca seria correspondido, a cada dia ele se fortalecia, mais e mais, para meu horror e desespero. Enquanto isso, ela buscava, nas próprias histórias, um romance que há muito já estava fadado a desmoronar, como um castelo de areia ao ser atingido pelas ondas. Não havia mais nada a se fazer por nós: éramos três desiludidos, três corações partidos, três pobres indivíduos que sofriam das irremediáveis dores de amor.
Ela, sofria pela distância; nós, pela proximidade. Ver-te amar um outro alguém, assim tão de perto, e ser aquela a secar as lágrimas que jamais seriam derramadas por mim era uma tortura, das mais cruéis. Deixar-te aos prantos, sofrendo em sua solidão, no entanto, não era uma opção. Te ver feliz me machucava, te ver triste me machucava. Que opções eu tinha? Já você, do outro lado da mesa, junto dela, sofria ao vê-la assim, tão próxima, com a certeza que seu coração estava longe, eternamente fora de seu alcance. E ela, principalmente, porque amava, mas já não tinha mais esperanças de encontrar a própria felicidade. Porque, às vezes, amar apenas não é o suficiente.
Éramos três. E, no entanto, eu estava sozinha do outro lado da mesa, assistindo a um filme sem-graça que eu já sabia, de cor, o final. Nossa história sem começo, meio e fim, sem pé nem cabeça, sem clímax, sem enredo, sem nada. Só me restava uma dança, embalada por uma triste melodia. Ainda assim, um impasse.
Não se podem dançar os três de uma vez.

Um comentário:

Marie disse...

Que bonito.
Encontrei o seu blog por acaso e adorei como você escreve, hehe.