14 de agosto de 2015

Vestígio I

Ela correu por entre os galhos, segurando o vestido entre uma das mãos. A barra longa de linho já vira dias melhores, mas ela não se preocupava com isso agora. Vez ou outra, parava por alguns segundos para tomar ar e olhar as estrelas, orientando seu caminho. Ao olhar para trás, ainda podia ver as chamas dançando no céu, a fumaça negra se estendendo entre as nuvens. Em outras circunstâncias, deixar-se-ia levar pelas lembranças da suntuosa mansão, dos dias de calmaria, dos risinhos entre os corredores e cantos - agora, contudo, precisava escapar. Precisava viver para cumprir a vingança.
Eles pagariam. Por cada gota de sangue derramado, por cada flor pisoteada no jardim, por casa choro abafado entre as pequenas mãozinhas, acuadas entre os cantos e corredores. Por cada sopro de vida ali tomado, por cada último suspiro. Por cada pedaço de linho queimado pelas chamas de tal tragédia. Eles pagariam. Ainda que tivesse de sujar as próprias mãos com o vermelho rubro de cada um daqueles monstros em pele de homem.
Tomou o ar e seguiu em frente, por entre os arbustos e galhos. Cruzou o rio sem medo, ainda que a água fria queimasse sua pele. Certificou-se uma ou duas vezes que sua adaga permanecia entre as camadas de tecido do vestido e seguiu seu caminho. Eles pagariam. Ela os faria pagar.

Nenhum comentário: