15 de agosto de 2015

Vestígio II

O sol se punha, a uma leve brisa dançava por entre as folhas da árvore na qual se recostavam. Ali, os dias terminavam assim, calmos, serenos, tranquilos. Ela podia sentir o peso e o calor da cabeça deitada em se ombro - embora o calor parecesse estender-se ao se peito e às maçãs do rosto. Podia quase ouvir a respiração pesada, e uma certa dor incomoda nas costas, mas mais do que tudo, podia senti-lo ali, ao seu lado. Sabia que uma dama não deveria ser egoísta, e que deveria conter seus desejos impertinentes, mas queria que tais momentos perdurassem. Ansiava pelo pôr-do-sol todos os dias, fingindo ler um romance qualquer, e podia sentir o coração explodir dentro do peito ao vê-lo caminhando em sua direção, com um riso sem jeito. Fazia cara de desinteresse, "Uma dama não pode aproveitar a brisa enquanto lê?", e sentia borboletas no estômago ao ouvi-lo rir. "Sim, ela pode. E poderia este cavalheiro desfrutar de sua companhia?"
Não se conteve, e permitiu-se brincar com as madeixas escuras entre seus dedos finos, fascinada com o contraste entre os fios negros e sua pele alva. Permitiu-se beijar-lhe, no topo da cabeça, e voltou sua atenção ao céu, pedindo que o vento esfriasse o calor de suas bochechas. Se fosse mais atenta, perceberia não ser a única com as faces avermelhadas, mas estava muito perdida nas próprias fantasias para notar que o homem a seu lado compartilhava do mesmíssimo desejo.

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