23 de abril de 2015

Transitando


Nós costumávamos jogar conversa fora a essa hora. Nos divertíamos falando de qualquer coisa - fossem as pessoas, os livros, o dia-a-dia, as piadinhas mais bobas possíveis. Sua presença em minha vida era constante, e parecia-me que sempre seria assim. Nós fazíamos promessas juntos, planos para o nosso futuro, brincávamos sobre como seria nossa relação em dez anos, e isso parecia muito sólido pra mim. Àquela altura, você parecia certo em minha vida, e ali estaria por toda a eternidade.
Pensando nisso agora, eu me sinto tola. Claro que eu notei que já não vínhamos nos falando com frequência, mas pensei: "faz parte da vida". Nosso dia-a-dia era sempre uma correria, você por aí, eu por aqui, e eu não seria mimada ao ponto de achar isso um problema. Éramos adultos agora, tínhamos responsabilidades e obrigações com as quais cumprir. Ainda assim, eu gostava de pensar que você estaria sempre ali. Distante, mas ali, em algum lugar para o qual eu pudesse correr quando precisasse.
Um dia, eu percebi que você já não estava mais em lugar algum. E eu não fazia ideia de para onde tinha ido. Mais do que isso, eu sequer tinha notado a sua partida. Não chorei sua ausência. Não percebi sua falta. Não liguei. 
As pessoas são assim, elas vêm e vão. Às vezes é doloroso, às vezes não.

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