5 de fevereiro de 2021

Em mim só existe ódio

Hoje eu acordei com raiva.
Uma mistura de raivas passadas, que me assombram, de raivas presentes, que me queimam viva por dentro, e talvez até de raivas futuras, que eu sei que estão à espreita.
Eu quero me cortar inteira. Fincar uma lâmina em meus braços e rasgar toda a minha derme, meus músculos, minhas veias. Marcar meus ossos com todo o ódio que eu sinto, fazer arte com o sangue que ferve dentro de mim.
Eu quero degolar o meu pescoço, e verter o fluído da vida que me preenche. Eu quero sangrar, sofrer, gritar e arder em chamas, carbonizar meus membros, arrancar os cabelos, perfurar os olhos.
Eu tenho sede de sangue.
E me dói, me entristece, me desgasta que eu engula todo esse ódio sozinha. Que eu seja capaz de fantasiar as mais terríveis torturas para comigo mesma. Que ninguém além de mim ouça esses pensamentos, que não me enchem de culpa como deveria de ser. Me desgasta voltar constantemente a esse lugar de opressão, de violência e de tortura, e que esse desejo de morte siga me acompanhando pela extensão dos meus dias. Me entristece pensar que os anos se passam, e ainda vão se passar muitos outros, e a única essência que em mim permanece é o ódio.
Eu me odeio. E eu me iludo pensando que um dia vou me amar, respeitar e cuidar como se espera de uma pessoa adulta, saudável e sensata. Eu me odeio porque não posso odiar quem me fere, quem me magoa, quem me machuca. Eu me odeio porque me dizem que sou odiosa, que sou terrível, um monstro com garras e dentes afiados. Eu me odeio porque nunca aprendi a amar. Porque nunca me sinto amada, acolhida, desejada, respeitada.
Eu tenho ódio, porque foi isso que o mundo ensinou pra mim.
E cada dia sem rasgar meu corpo, sem verter meu sangue, sem tirar de mim a vida, é mais um dia que se perde na imensidão do tempo. Cada dia viva é um desperdício. Cada dia viva é mais uma razão pra odiar a minha existência.

Nenhum comentário: