14 de julho de 2016

Conhecer-se e amar-se


Existem coisas em nós que só podemos compreender com o passar dos anos. Como se dentro de cada um houvesse um grande labirinto, com passagens secretas, cujos macetes e senhas só se aprende com o tempo. Envelhecendo. Mas ao longo da vida temos algumas pistas, alguns vislumbres, pequenas peças que vamos juntando e formando o grande quebra-cabeça que somos nós.
Desde criança, eu tenho essa sensação de que as pessoas não me vêem realmente. Olham pra mim e enxergam uma pessoa, com suas qualidades, defeitos, características em geral, mas não é a mim. Nós últimos anos, dei-me conta de que eles vêem uma imagem outra, uma ilusão - alguém que não sou eu. Percebi o ocorrido quando notei que já não consigo mais corresponder às expectativas alheias, mas não por falta de vontade e esforço, e sim porque não é mais possível. Eu, infelizmente, não consigo ser nada além de mim mesma.
O que esperam de mim, por vezes, é plausível. Seja mais educada, mais doce, menos dura com as pessoas. Dedique-se mais, faça sem que lhe peçam, fale de maneira mais delicada. Vista-se melhor, perca peso, tire notas melhores. São mudanças possíveis, eu sei. Mas, por vezes, me pedem coisas que não posso fazer. Não seja assim. Não fale assim. Não pense assim. Não se comporte assim. Não seja assim, quem você é, pois não gostamos de você assim.
Quem vocês esperam que eu seja, exatamente?
Me dei conta de que, às vezes, as pessoas não esperam que eu mude. Elas esperam de mim coisas que eu não faço, não consigo, não sou. Para que me amem, respeitem e sejam menos duras comigo, preciso tornar-me alguém diferente - alguém que vá de encontro com suas expectativas, que encarne suas ilusões de mim.
Eu não posso ser nenhum outro alguém que não eu mesma. Não posso, não vou e não quero. E não há nada, a essa altura, que possa me convencer do contrário. Gastei tempo demais ao longo da vida tentando corresponder às expectativas das outras pessoas e falhando comigo mesma. Eu conheço os caminhos do meu labirinto agora. Descobri algumas passagens secretas, caminhos obscuros, macetes e manhas - eu sei onde estou agora. Ainda não sei ao certo para onde estou indo, mas sei de onde vim e onde estou - e sei que não posso tomar outro caminho que não o meu próprio.
Os outros precisam me ver. Não com véus translúcidos ou lentes coloridas, mas sim com minhas formas e cores. Minhas curvas e linhas. Me vejam como eu sou, e aceitem o fato de que eu não sou quem vocês desejam, mas sou outra pessoa. Sou eu mesma! E sinto lhes dizer que quero celebrar-me - quero frustrar as expectativas dos outros e minhas próprias, quero encontrar meus defeitos e falhas e, por meio deles, conhecer a mim mesma. Quero me permitir amar e ser amada de uma maneira que só eu possa.
Conheçam a verdadeira eu. E, se não gostarem, por favor, não se incomodem! A porta fica logo ali.

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