15 de maio de 2014

Seu motorista...


Seu motorista, com todo o respeito, preciso lhe dizer: a viagem já não me agrada. A paisagem, que outrora fizera-me tão bem, já não me atrai mais. Já não vejo mais beleza nos verdes campos, no céu ou na brisa que entra pela minha janela. A estrada, seu motorista, está muito mal cuidada, e prolongar a viagem só há de me cansar ainda mais. Por isso, eu encarecidamente lhe peço: pare o mundo, que eu quero descer.
Não me leve a mal. O senhor até que conduz muito bem - o problema é a viagem. A viagem tem me sido muito penosa, seu motorista, como não antes tivera. Não vê que os céus por estas bandas não têm cor? A estrada, com seus buracos e barrancos, já não dá gosto de andar , e os passageiros - ah, os passageiros! - que passam por nós já sequer podem manter uma boa conversa, têm sempre pressa, têm sempre pressa...
Já não tenho mais o espírito para seguir minha jornada. Falta-me a alegria e o prazer da juventude, que de mim esvaíram-se tão depressa. Sequer posso buscá-los em minha terra, seu motorista, pois perderam-se de mim nos caminhos dessa aventura. Não sei onde os derrubei, nem mesmo os vi cair... E a cada tranco, é uma ferida antiga que se abre neste velho coração, quando não uma nova que nasce sobre ele.
Já não posso mais seguir contigo, meu amigo. É preciso que eu fique! E é preciso que você se vá! Aqui, desta vez, nossos caminhos se separam. Eu fico, meu caro parceiro, e você segue em frente sua aventura.
Pare o mundo, motorista, que eu quero descer! Porque se não parar o mundo, do jeito que está, paro eu.

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