7 de fevereiro de 2009

Ficção. "Pedaços"

No fundo, eu acho que eu sempre soube que não era como eu pensava. Todos aqueles sorrisos e brincadeiras eram apenas... amizade. Eu que me deixei levar, eu que entendi mal. Acho que esse negócio de viver sem arrependimentos não é verdade. Não tem como ser, porque eu sinto o arrependimento subindo e tomando meu peito, e eu não quero sentí-lo.
Talvez eu devesse ter ficado quieta. Talvez eu não devesse ter escutado meus amigos, e ter falado tudo o que eu pensava. Agora eu estou aqui sozinha, patética, encostada num canto do meu quarto com os pedacinhos do meu coração em mãos, e eu não sei o que fazer com eles.
De novo.
Como eu pude ser tão idiota, e repetir o mesmo erro? Quantas vezes eu terei que procurar alguém para colar os meus pedacinhos? Quando eu vou aprender a fazer isso sozinha, e deixar de ser tonta o suficiente para me quebrar? Quantas vezes eu vou fazer pra mim mesma este discurso, sabendo que logo eu vou simplesmente me esquecer de tudo isso?
Eu achei que eu estava fazendo o certo. Eu estava sendo sincera, e te dizendo o que eu sentia. Como você havia me pedido pra fazer.
"Eu quero que você sempre me diga o que sente, o que pensa... está bem? Nada de segredos entre nós."
Claro, eu tinha que acreditar nessas palavras cegamente.
Eu preciso eu mesma colar os meus pedacinhos. Você se lembra, de como eu te conheci? Eu estava deste mesmo jeito, sentada na calçada da escola, procurando um jeito de colar os pedacinhos, quando você veio e me perguntou com o tom mais doce...
"Por que você está aí, sozinha?"
E você se sentou comigo, e pouco a pouco, a cada dia, você colou todos os pedacinhos pra mim. E eu me sentia bem.
Quanta hipocrisia de sua parte, colar tudo e quebrar de novo.
Eu não vou mais me deixar levar. Eu vou me levantar sozinha, sem que alguém precise me ajudar. Talvez você tenha me ensinado alguma coisa.

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